Um estudo publicado recentemente pela revista Nature revelou que Gaëtan Dugas, canadense considerado culpado por trazer o vírus do HIV para a América do Norte na década de 1980, na verdade não pode ser chamado de “Paciente Zero”.
Segundo os pesquisadores responsáveis, milhares de norte-americanos já estavam infectados antes da consciência em relação do vírus ter aumentado na década em questão, o que prova que o vírus já estava em solo norte-americano antes de Dungas ganhar notoriedade.
Conforme informado pela IFLScience, Dungas era um comissário de bordo homossexual que transmitiu inadvertidamente o vírus a seus parceiros. Após sua morte, foi estigmatizado como “paciente zero”, dando início a uma longa linhagem de indivíduos e grupos que passaram a ser desprezados e humilhados pela orientação sexual e associação à doença.
Segundo o coautor do estudo, Richard McKay, há muito que foi assumindo que o HIV-1 grupo M de subtipo B entrou nos EUA durante a década de 1980, uma vez que não haviam amostras de sangues de infectados no país anterior a esta data. Assim, para refutar tal teoria, os pesquisadores analisaram amostras de sangue fornecidas por homens homossexuais que viveram em Nova York e San Francisco no final dos anos 1970, alguns dos quais diagnosticados com HIV apenas na época em que a consciência do vírus aumentou no país.
Basicamente, foi determinado que o vírus teria sido transferido primeiro para Nova York a partir do Caribe, uma vez que, já havia pacientes com o vírus durante a década de 1970, análises de genomas mostram que o HIV era descendente de uma estirpe que parece ser proveniente do Caribe em 1960.
Então, o vírus foi transferido para Nova York em meados de 1971, antes de encontrar seu caminho até San Francisco em 1976, para depois se transformar em uma estirpe ligeiramente diferente. O estudo também determinou, a partir do cálculo de pessoas infectadas, que o vírus no país dobrou a cada 10 meses ou mais, o que significa que pelo período em que Dugas o contraiu, milhares de pessoas em solo norte-americano já eram soropositivas.
Apesar desta constatação, o canadense continua a ser vítima de vilipêndio, bem como, mesmo depois de morto, ainda carrega o fardo da propagação do HIV pela América do Norte.
Segundo os autores, espera-se que o estudo faça com que pesquisadores, jornalistas e público geral pensem duas vezes antes de utilizar o termo “Paciente Zero”, uma vez que a expressão carrega muitos significados e uma história repleta de preconceitos. [ IFL Science ] [ Foto: Reprodução / Philstar / Domínio Público ]
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