Jornal do Brasil - Os preços do petróleo fecharam a oitava semana de queda consecutiva no mercado norte-americano, marcando a mais longa série de desvalorizações desde 1986. O valor do barril caiu abaixo de US$ 40 e o Brent atingiu a mínima desde 2009. A desaceleração chinesa é o motivo central para preços tão baixos, mas existem outros fatores a serem incluídos nesta equação: a alta produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), o gás de xisto dos Estados Unidos e o acordo nuclear firmado entre o Irã e as potências mundiais.
Para Alberto Machado Neto, especialista em Gestão de Negócios em Petróleo e Gás, são muitas as variáveis envolvendo a questão do petróleo. A relação entre oferta e demanda, na sua visão, é a principal delas. “A Arábia Saudita antes trabalhava com reservas e hoje está quase no limite da produção. O Irã agora entra no mercado, após assinar o acordo nuclear. Ainda temos uma queda no crescimento da China, o que diminui a procura. O estoque de petróleo no mundo está bastante alto e isso diminui os preços”, resume o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Pressionando os preços do óleo está, em primeiro lugar, o mau desempenho da indústria chinesa, que teve seu Índice Gerente de Compras (PMI) firmado em 47,1 na leitura preliminar de agosto. Segundo o indicador, resultados abaixo de 50,0 significam contração. A economia da China não mais crescerá a duas cifras, como o fez por 20 anos, e isso tem reflexos negativos no mercado, uma vez que se trata de uma das maiores importadoras de hard commodities do mundo.
Por outro lado, os países produtores trabalham no limite de sua capacidade e não mostram sinais de desaceleração. Na última quinta-feira (20), o Instituto do Petróleo Americano divulgou que os Estados Unidos atingiram seu maior nível de produção desde 1920. Nos últimos cinco anos, sua geração foi aumentada em 5 milhões de barris por dia.
Para fazer frente ao shale gas norte-americano, a Arábia Saudita também mantém seus níveis de produção elevados. De acordo com Machado Neto, o país antes atuava como pulmão dos EUA. “Ela sempre tinha uma reserva de produção para atendê-los, mas essa lógica mudou”, afirma. Para o especialista, a Opep se preocupa em perder sua hegemonia de exportação para novos produtores. “Mas há também outra queda de braço, dentro da própria Organização, entre países que têm capacidade de sobreviver sem o recurso do petróleo, como a Arábia Saudita, versus aqueles que não têm”, completa.
Aliado a isso, o acordo nuclear do Irã com os países ocidentais, firmado em julho deste ano, prevê a retirada de sanções ao país, que aos poucos retomará sua oferta da commodity. Com esse retorno ao mercado internacional, tendência é de novas desvalorizações nos preços do petróleo.
“A gente tem que observar como vão evoluir essas variáveis para ir adaptando o cenário pouco a pouco”, explica o professor da FGV. Ele alerta que situações que não podem ser controladas, como eventuais intempéries no Golfo do México e conflitos no Oriente Médio, também têm capacidade para influenciar os preços do petróleo.
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