por Paulo Diniz
A divulgação de pesquisa de popularidade do Governo Federal, feita pelo mesmo instituto que primeiro previu a vitória de Dilma Rousseff em 2014, deu contornos matemáticos a uma realidade que quase todos percebem: o isolamento da presidente. Os números estabelecem novos recordes, superando os piores momentos de José Sarney e Fernando Collor, nos anos 80 e 90. Não por acaso, em ambas situações o Brasil vivenciava descontrole na economia, com taxas inflacionárias altas e muita incerteza da população sobre o futuro. Collor, sem apoio legislativo e envolvido em escândalo de corrupção, teve seu mandato abreviado por pressões populares e políticas. Já o habilidoso Sarney soube manter sua coalizão parlamentar unida, sustentando seu governo até o último dia, apesar do enorme desgaste político que o acompanha até hoje.
Essa simples comparação deveria servir como orientação para o comando do atual governo; afinal, trata-se das únicas referências existentes, na democracia vigente, de gestões que atingiram graus de rejeição popular que beiravam a unanimidade. Porém, o conjunto das atitudes da cúpula do governo Dilma não indica que lições desse tipo foram aprendidas. O ministro da Casa Civil, Aloísio Mercadante, parece integrar o time de petistas que se conscientizaram a respeito da situação atual do governo e, também, em relação à forma como funciona a política no Brasil. Recentemente, o ministro elogiou a forma “elegante” como o PSDB vinha fazendo oposição nos últimos 12 anos, aproveitando a ocasião para reconhecer o enorme ganho social representado pela estabilização da economia brasileira, fruto de governos tucanos. Contradizendo toda a propaganda petista das últimas décadas, Mercadante se reconcilia com a razão: PT e PSDB podem ser adversários, mas nunca antagonistas, uma vez que, cada um a seu modo, ambos partidos levaram a cabo projetos de sucesso para o avanço do Brasil.
O ex-presidente Lula, apesar de ter agido às escondidas, também seguiu o raciocínio de Mercadante: lançou sinais de que gostaria de se reunir com Fernando Henrique Cardoso, para conversar sobre a estabilidade do país. Escaldado após ser atacado por décadas, FHC recusou a proposta petista; ficou claro que foram queimadas algumas pontes ao longo da trajetória de Lula, o que dificulta recuperar relações que, no passado, haviam sido amistosas.
Contrastando com essas duas sinalizações de aproximação em relação aos tucanos, a recente propaganda partidária do PT insistiu na estratégia do isolamento, chegando a mostrar imagens de líderes do PSDB e imputar-lhes desejos golpistas. Contradizendo a maioria dos analistas econômicos, o programa petista também afirmou que a atual crise econômica será rápida, o que só serve para granjear ainda mais antipatia junto à população dentro do médio prazo.
Somando-se tais fatos soltos, não é possível obter nada concreto: percebe-se a ausência de uma estratégia geral consistente no PT para recuperar o governo Dilma, que segue a correnteza da política de forma inerte.
por Paulo Diniz / por Paulo Diniz(publicado na edição de 16/08/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
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