Avaliação de ministros é que Cunha tentará ‘incendiar’ a Câmara, mas perderá credibilidade para tal
Para Jaques Wagner (Defesa), país não pode parar para assistir 'novela da Lava-Jato'
POR SIMONE IGLESIAS E CÁSSIO BRUNO
BRASÍLIA e RIO - A avaliação de ministros logo após a divulgação da denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, é que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), perde credibilidade para levar à frente movimentos “mais ousados” contra a presidente Dilma Rousseff no comando da Casa.
Integrantes da cúpula do governo ouvidos pelo GLOBO acham que, a curto prazo, Cunha vai tentar “incendiar” a Câmara, mas perderá força se fatos novos fragilizarem ainda mais sua situação. O Executivo acredita que o presidente da Câmara colocará em votação projetos que aumentem as despesas do governo e que busquem, paralelamente, resgatar sua imagem frente à opinião pública, como o projeto de reajuste dos servidores, por exemplo.
Um ministro palaciano disse ao GLOBO que acha difícil que Cunha se afaste agora, e que isso só ocorrerá se outros fatos aparecerem, “se vier uma cascata de novas denúncias”.
— Ele perde a credibilidade para movimentos mais ousados contra o governo — afirmou o ministro.
Um desses movimentos seria a proposta de afastamento da presidente Dilma do cargo.
Também nesta quinta-feira, a presidente evitou comentar a denúncia que o Ministério Público Federal apresentou, no STF, contra Cunha, por corrupção e lavagem de dinheiro. Após almoço com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, antes de a denúncia ser protocolada, Dilma disse que não analisa investigações nem a atuação dos outros Poderes.
'NOVELA LAVA-JATO'
No Rio, o ministro Jaques Wagner (Defesa) comentou a situação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDN-RJ), denunciado pela Procuradoria Geral da República nesta quinta-feira por corrupção e lavagem de dinheiro na Operação Lava-Jato.
— Cabe, agora, ao Supremo Tribunal Federal de fazer o julgamento e o desfecho final. Não existe, por enquanto, condenação. É uma denúncia, que é uma das fases do processo. A Polícia Federal investigou, entregou ao Ministério Público Federal e, se denunciou, significa que acolheu. Vamos ter que aguardar o julgamento — disse.
No entanto, para o ministro, o país não pode parar "para assistir à novela Lava-Jato":
— Acho que a investigação da Lava-Jato tem que continuar do bom uso do dinheiro público. Agora, o país não pode ficar parado assistindo à novela da Lava-Jato. Eu não vivo disso. Vocês não vivem disso. O trabalhador vive de emprego, salário. Então, não podemos ficar paralisando como a cada notícia nova na segunda-feira fosse quem vai ser investigado ou quem vai ser denunciado.
Jaques Wagner negou que a denúncia contra Eduardo Cunha, que rompeu com o governo e pôs em votação na Câmara pautas-bomba, prejudique Dilma:
— Traz problema para o presidente da Casa (...) A denúncia não traz nenhum problema para o governo. Ela (denúncia) foi feita pelo Ministério Público e será julgada pelo Supremo. Não imagino que o presidente da Câmara queira se voltar contra o governo. Até porque não está se voltando contra o governo. Está se voltando contra o Brasil, contra a possibilidade de futuro e de prosperidade.
De acordo com o ministro, somente os deputados devem decidir pelo afastamento ou não de Eduardo Cunha do cargo.
— Cabe aos parlamentares. Esse é um problema que complica para a Câmara dos Deputados. Mas o fato de está denunciado não tem uma obrigação de afastamento. Seguramente, vai haver uma guerra política lá dentro de pessoas defendendo uma posição e pessoas defendendo outra. Só o plenário que pode decidir isso (afastamento).
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