Jéssica BitencourtDo G1 Santos/Luiz Fernando cuidou do cão (Foto: Andrea Grosso/ Arquivo Pessoal)
“Se ele morrer, eu morro também”. É com estas palavras e os olhos cheios de lágrimas que o morador de rua Luiz Fernando Gomes de Araujo fala sobre seu fiel companheiro de quatro patas, o cachorro Joe. A inseparável dupla vive em uma rua do bairro do Marapé, em Santos, no litoral de São Paulo, e chama a atenção de quem passa pelo local. Até propostas para vender o animal ele já recebeu, e recusou.
Sentado em um pedaço de papelão, Luiz Fernando escova com cuidado os pelos do animal esparramado em seu colo. A cena se repete há alguns meses em uma esquina da Rua Dom Duarte Leopoldo e Silva, onde dono e animal improvisaram um lar. Mas, o encontro dos dois, aconteceu um pouco mais longe. “Eu achei o Joe no cais do porto. Estava passando um tempo lá. Isso tem nove meses”, lembra o morador.
De acordo com ele, o cãozinho tinha dona antes de ser abandonado. Quando foi encontrado, Joe estava doente e cheio de carrapatos. “O pessoal daquela região contou que ele morava em um apartamento e que a dona não podia mais ficar com ele. Como não achou quem adotasse, soltou o bichinho lá e eu achei. Ele não tinha um pedaço da orelha e estava com carrapatos, mas eu tratei ele”, comemora.
O morador dá de tudo para o bichinho: de comida a tratamento VIP no veterinário. “Levo para passear de coleira, dou banho no chuveirinho da praia. Ele tem o sabonete dele. Tinha pasta e escova de dente também, mas roubaram. E vai ao veterinário quando precisa”, explica, comentando que o cachorro é atendido gratuitamente por uma clínica do bairro. E os mimos continuam quando é hora de comer. “Ele tem a ração dele, mas prefere arroz com carne na hora do almoço. É metido”, brinca.
O animal carrega saquinhos de sal presos na coleira: um na frente, outro na parte de trás. “É para proteger e espantar o mau olhado”, afirma o dono, que já recebeu até propostas para vender o animal. “Um rapaz me ofereceu R$ 2 mil e eu recusei. Depois, uma mulher perguntou se eu queria um valor maior, que ela pagava. Não vendo esse cachorro por nada, ele é a minha família”, conta. “Onde ele for eu vou, porque é ele quem me puxa”.
Vida na rua
Apesar da linda amizade, a vida está longe de ser simples para essa dupla. No bairro, Luiz Fernando é conhecido como João de Barro por alguns moradores, por guardar seus poucos pertences no topo de uma árvore. “Preciso fazer isso para que não levem o pouco que tenho”, explica o morador, que teve uma bicicleta roubada recentemente. O veículo foi dado de presente pelos moradores e comerciantes do bairro, onde ele realiza serviços em troca de comida.
Luiz Fernando não usa drogas, não bebe e não tem passagens pela polícia. A rua o acolheu quando ele perdeu a mãe e, anos depois, a tia. “Tenho um filho, mas pouco contato com ele. A mãe dele também morreu, contraiu AIDS de um homem que conheceu quando me deixou”, relata.
A história do morador de rua vem comovendo a todos que vivem na região. Para melhorar a qualidade de vida da dupla, eles procuram alguém que se disponha a empregar o rapaz e dar moradia para ele e seu companheiro. A ideia lhe parece animadora. “Tudo o que eu mais quero é ter um teto só nosso. Aí não vou precisar acordar preocupado com ele (o cão) e com as minhas coisas”, finaliza Luiz Fernando.
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