A questão da semana é o caso do jovem que sente muito desejo sexual, mas é vigiado pelos pais para impedir que se masturbe. Por conta dos preconceitos encontramos pessoas culpadas e amedrontadas com seus próprios desejos e com a forma de realizá-los.
As mentalidades, felizmente, estão mudando. Numa província da Espanha, por exemplo, a Secretaria de Educação criou o curso “O prazer está em suas mãos” para ensinar masturbação nas escolas a jovens de 14 a 17 anos e derrubar mitos negativos sobre o tema. Os conteúdos vão de anatomia e fisiologia sexual até técnicas de masturbação e uso de objetos eróticos. É claro que os conservadores protestaram e ameaçam entrar na Justiça. Mas para a Secretária de Educação o novo curso “não devia escandalizar ninguém, principalmente, porque todos nós fomos adolescentes e todos nós temos sexualidade”. Mas para a maioria a masturbação ainda é um tabu.
Na Antiguidade a masturbação era uma forma aceita de obter prazer, embora os greco-romanos a desestimulassem até a idade de 21 anos. Em outros lugares ela adquiriu significado religioso. Os antigos egípcios acreditavam que a criação do universo havia ocorrido através de um ato de masturbação do deus Atum, que teve por parceira divina a própria mão.
Mas a nossa história tomou outro rumo. Para a cultura judaico-cristã, qualquer prática que não levasse à procriação foi, durante muito tempo, objeto de severas punições. A condenação bíblica à masturbação perdurou por milênios, chegando ao ponto de, na Inquisição, o acusado ser considerado herege, podendo ser sentenciado à morte na fogueira.
No século 18 a masturbação ascendeu à categoria de doença extremamente grave. Nessa guerra contra o prazer, o suíço Tissot lança, em 1760, a condenação científica dessa prática no seu tratado ‘Dissertação sobre as doenças produzidas pela masturbação’. “Que me permitam aqui uma pergunta: aqueles que matam com um tiro de pistola, que se deixam afogar ou que se enforcam, são mais suicidas que esses homens masturbadores?”, indagava o autor.
A partir daí foi desenvolvida uma absurda literatura médica, com uma extravagância nunca igualada. Esta loucura anti-masturbatória continuou no século 19. Diversos textos aterrorizavam s pessoas quanto ao malefício da masturbação. Loucura, ataques epiléticos, cegueira, câimbras dolorosas, pêlos nas mãos, era o mínimo que aconteceria. Diziam até que se o vício não fosse contido, o fim do mundo estaria próximo.
Com o objetivo de impedir a atividade masturbatória, várias invenções proliferaram. A mais conhecida era a atadura anti-masturbação do Dr. Lafond. Os órgãos genitais eram escondidos embaixo de envelopes que permitiam a excreção da urina. Por baixo disso um cofre da forma e do tamanho do pênis o vestia de ouro ou prata, garantindo que estava ao abrigo de qualquer tentação.
Um médico inglês criou um cinto de castidade solidamente fechado com ferrolho para o dia e um anel peniano de metal com quatro pregos voltados para dentro para a noite. O homem seria despertado à menor ereção. Havia também um detector de ereção ligado a um fio que ficava ao lado do quarto dos pais do jovem. À mais leve ereção, uma espécie de sino tocava, alertando os pais para a ereção do filho.
Quanto às meninas, a extirpação do clitóris foi preconizada na Europa, demonstrando a atitude extrema de repressão sexual do período vitoriano. As maiores sumidades médicas a praticavam sem hesitação. Alguns especialistas se vangloriavam de ter ‘curado’ várias meninas, queimando seu clitóris com ferro quente.
Não é à toa que é grande o número de pessoas culpadas e amedrontadas com seus próprios desejos e com a forma de realizá-los. Não são poucos os jovens que, aflitos, perguntam se a masturbação faz mal, causa peito duro, impotência ou ejaculação precoce. Contudo, isso não impede que praticamente todos se masturbem. A questão é que a culpa não permite que se desfrute o máximo, evitando que a masturbação se torne a experiência libertadora e satisfatória que ela pode ser.
Hoje, é sabido que a masturbação na infância é importante, já que equivale à auto-exploração do corpo. Na adolescência ela é vista pelos especialistas como uma prática fundamental para a satisfação sexual na vida adulta, por permitir um autoconhecimento do corpo, do prazer e das emoções. No tratamento das disfunções orgásticas, a masturbação é o elemento principal para capacitar a mulher a ter o primeiro orgasmo.
Diante dessas evidências, o sociólogo canadense Lionel Tiger pergunta: “Por que será que a masturbação não é ensinada na escola?”. Talvez a resposta ele mesmo dê em outra passagem do seu livro A busca do prazer, quando afirma que controlar o prazer das pessoas é controlar as pessoas. Fonte: Com informações do UOL
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