O fim do governo de Viktor Yanukovytch na Ucrânia não diminuiu as preocupações dos ocidentais, que temem uma divisão do país, um período perigoso de instabilidade política e uma reação imprevisível da Rússia.
A chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, anunciou na noite deste domingo que vai nesta segunda-feira a Kiev para discutir medidas a serem adotadas para encontrar uma solução política, no momento em que a Ucrânia se encontra à beira da quebra e está dividida entre o oeste pró-ocidental e o leste pró-russo, majoritário.
Mas a boa vontade de Ashton pode não ser suficiente, já que os riscos de explosão são grandes e os meios da alta representante da UE para Relações Exteriores são limitados.
Todos na Europa saudaram a transição democrática iniciada na sexta-feira na Ucrânia, mas observam a situação com alguma preocupação. O fosso que separa o leste do oeste parece aumentar.
"A unidade e a integridade territorial do país devem ser respeitadas", ressaltou na noite deste domingo um comunicado do Palácio do Eliseu após uma conversa entre o chefe de Estado francês, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela Merkel.
Hollande pediu "a organização rápida de eleições e o lançamento de um programa de reformas".
Antes, a chanceler alemã tinha conversado com o presidente russo, Vladimir Putin, e chegou às mesmas conclusões. Merkel e Putin "concordaram que a Ucrânia deve se dotar rapidamente de um governo e que a integridade territorial deve ser preservada", anunciou a chanceler alemã.
- Ameaça de calote -
Mais direto, o chefe da diplomacia alemã, Frank-Walter Steinmeier, um dos ministros europeus que mediaram o acordo concluído entre Yanukovytch e a oposição, pediu que "a filosofia daqueles que estarão no poder no futuro (em Kiev) não seja ditada, em primeiro lugar, pela vingança, mas pela garantia da unidade ucraniana".
A preocupação dos europeus é compartilhada pelos americanos. A divisão da Ucrânia e a "volta da violência" não interessam aos Estados Unidos, à Rússia e a própria Ucrânia, afirmou neste domingo Susan Rice, assessora de segurança nacional do presidente Barack Obama.
Consultada sobre o temor de uma intervenção militar russa na Ucrânia, Susan Rice simplesmente afirmou que "isto seria um grave erro". Nada leva a acreditar, no entanto, em uma hipotética ação militar russa.
Durante uma conversa por telefone com seu colega russo, Serguei Lavrov, o chefe da diplomacia americana, John Kerry, recordou a necessidade de que "todos os estados respeitem a soberania da Ucrânia, sua integridade territorial e sua liberdade de escolha", revelou um alto funcionário do departamento de Estado.
No mesmo sentido, o presidente ucraniano interino, Olexandre Turtchynov, pediu neste domingo que a Rússia respeite "a escolha europeia" da Ucrânia, em um pronunciamento à nação difundido pela televisão.
Moscou considera que a oposição ucraniana não cumpriu suas obrigações no acordo negociado na sexta com o governo, mediado por Paris, Berlim e Varsóvia, que previa uma solução para a crise institucional mantendo o presidente Viktor Yanukovytch por mais alguns meses no poder.
Enquanto Turtchynov lembrava que seu país estava a beira da quebra, a União Europeia propôs a retomada do acordo de associação recusado por Yanukovytch, que desencadeou a atual crise política. O Fundo Monetário Internacional (FMI) indicou neste domingo que está preparado para ajudar o país, assim como Washington, sem detalhes sobre valores ou condições.
Segundo o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, as propostas europeias de ajuda econômica "podem, provavelmente, ser ampliadas". Seu colega britânico, William Hague se disse disposto, com o ministro alemão Steinmeier, a apoiar o desbloqueio de uma ajuda financeira do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A Ucrânia precisa de dezenas de bilhões de dólares este ano. O FMI estava prestes a conceder uma ajuda em troca de reformas drásticas que Viktor Yanukovytch recusava, enquanto Moscou propunha uma ajuda de pelo menos 15 bilhões de dólares.
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