Sem escrúpulo, os farsantes não se envergonham de comparar-se a Cristo. Cometem irregularidades, mas não querem ser penalizados. Para eles, os criminosos são os outros.
Quem assistiu à encenação do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), no plenário da Câmara Federal, dia 11 último, contestando a sua condenação pela Suprema Corte e acusando a integridade do ministro Joaquim Barbosa, pode ver o desespero de um político solerte, que não esperava ser alcançado pela Justiça. E vale aqui lembrar a lição de Euclides da Cunha: “o político tortuoso e solerte que .... faz da política um meio de existência e supre com esperteza criminosa a superioridade de pensar”.
Leiam o artigo abaixo e tira as suas conclusões.
Condenado a 9 anos e 4 meses de prisão por peculato, lavagem de dinheiro e corrupção passiva no processo do mensalão, o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara, subiu ao plenário na tarde desta quarta-feira, 11, para fazer um discurso em que, nas suas palavras, "presta contas" aos seus eleitores.
Em 44 minutos de pronunciamento, o deputado fez críticas à condução considerada por ele "seletiva" do ministro Joaquim Barbosa no processo, exaltou sua condução frente à presidência da Casa e disse não ter enriquecido com a política.
O parlamentar apontou o que considera inconsistências no trabalho do relator do processo do mensalão, ministro Joaquim Barbosa. "É ou não é um ministro que trabalha com informações seletivas?" questionou o deputado. "É, eu mesmo respondo. É sim", disse. Segundo ele, os réus da ação "foram condenados sem provas e contra as provas".
As acusações orais a Barbosa ratificaram o que estava escrito em uma cartilha distribuída antes do discurso aos colegas, intitulada "A Verdade - Nada mais que a verdade". "Não busca, assim, a verdade e a justiça, usando quando lhe interessa as informações para condenar. Quando as provas são a favor dos réus ele as despreza", diz o texto.
"O Supremo tem que dizer de onde eu desviei (recursos)", declarou. Ele afirmou que não praticou peculato e negou irregularidades nos contratos de publicidade durante sua gestão na presidência da Casa."Não tenho medo de assumir as coisas que eu faço", frisou.
João Paulo citou medidas adotadas quando ele era presidente da Câmara, entre 2003 e 2005, e disse que trouxe transparência para a Casa. Ainda rebatendo as acusações do processo, ele afirmou que suas contas foram aprovadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). "Não há um real de desvio nos contratos da Câmara e eu pago por peculato", protestou o petista.
Ainda criticando o processo do mensalão, João Paulo Cunha disse que juiz não disputa a opinião pública, porque não precisa disputar mandato a cada quatro anos. "Juiz, desde a sua origem, guarda certo recato e é cândido".
Segundo ele, "ainda vai ter muita coisa a se discutir sobre o processo (do mensalão)". "Engana-se quem pensa que (o processo) se encerrará em breve, com as prisões ou com os embargos".
João Paulo aguarda o julgamento dos recursos chamados embargos infringentes para a condenação por formação de quadrilha. No caso de uma decisão favorável ao réu, a pena imposta a ele pode ser reduzida a menos de 8 anos de prisão, o que lhe permitirá cumprir em regime semiaberto. Se for mantida a atual condenação, ele deverá cumprir pena inicialmente em regime fechado.
Num pronunciamento emotivo, João Paulo disse sofrer com o processo, mas afirmou que a dor o "faz mais forte". E citou o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela. "Mandela cumpriu preso 27 anos (de prisão) e não saiu menos indigno do que quando entrou", disse.
O petista lembrou que está há 20 anos na Câmara e "nunca tive nenhum processo em minha vida". "Fiz opção pelo silêncio porque aproxima a gente da gente mesmo", emendou, lembrando que não fez da fortuna com a atuação política. Ele afirmou que mora há 21 anos na mesma casa, na periferia de Osasco. "Não existe nada a ser encontrado em minha vida".
João Paulo classificou ainda o processo do mensalão de cruel e duro, mas disse que ele "há de ser enfrentado". João Paulo também alegou que foi condenado contra as provas e disse que o processo do mensalão foi "uma farsa".
O petista encerrou o discurso sob aplausos e, na saída, recebeu os cumprimentos dos colegas.
Fonte: Ricardo Della Coletta e Daiene Cardoso-O Estado de S.Paulo.
Júlio César Cardoso
Bacharel em Direito e servidor federal aposentado
Balneário Camboriú-SC
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