De outubro de 2012 a setembro de 2013, o comércio de antidepressivos e estabilizadores de humor movimentou mais de R$ 2 bilhões no Brasil. A consultoria IMS Health, que traz esse dado, também informa que nos últimos cinco anos, o número de unidades vendidas desses remédios cresceu 61%. Para o psiquiatra americano Dale Archer, autor do best-seller "Better than Normal", recém-lançado no Brasil com o título "Quem Disse que É Bom Ser Normal?" (Sextante, 224 págs., R$ 24,90), a "caixa da normalidade" está cada vez menor e a culpa é do excesso de diagnósticos de doenças mentais. O médico diz que depois de 20 anos de clínica notou que havia algo errado com os pacientes que tratava. A maioria, segundo ele, dizia ter um transtorno mental e precisar de remédios, só que eles não tinham nada. 'É mais cômodo dar remédio do que fazer terapia', diz. "Estamos 'patologizando' comportamentos normais. E isso não é só culpa da psiquiatria", disse Archer à reportagem da Folha. Nos EUA, um quarto dos adultos americanos tem uma ou mais doenças mentais diagnosticadas, segundo o Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA. "Isso está errado. Há uma gama de comportamentos que não são doença," afirma Archer. Para o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, os diagnósticos aumentaram, mas da mesma forma como aumentou os de outras doenças, de diabetes a câncer. "Isso é resultado da evolução da medicina e da facilidade de acesso," comentou. O médico brasileiro acredita que o problema é mais de subdiagnóstico. Para ele, há mais deprimidos sem tratamento do que pessoas sem depressão sendo tratadas e o que caracteriza a doença mental é a gravidade dos sintomas. "Deixa de ser normal quando a pessoa tem prejuízo, quando está tão triste que não consegue sair da cama," explica. Silva informa que "invariavelmente" encaminha os pacientes para a psicoterapia e nem sempre os pacientes dele saem do consultório com uma receita médica na mão. BN
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