O laudo do exame necroscópico no corpo de Joaquim Ponte Marques, de 3 anos, que deve ser entregue à polícia nesta terça-feira, não aponta a causa da morte da criança, segundo reportagem exibida no programa "Fantástico", da TV Globo. O menino desapareceu de casa, em Ribeirão Preto, no dia 5 de novembro, e o corpo dele foi achado num rio cinco dias depois. A mãe de Joaquim, Natália Ponte, e o padrasto, Guilherme Longo, são suspeitos da morte dele, e estão presos, mas negam o crime.
Segundo o "Fantástico", as únicas lesões no corpo de Joaquim foram encontradas na pele, decorrentes dos dias em que ele foi arrastado pelo rio. Os legistas não acharam água do rio no sistema respiratório do garoto, ou seja, não há característica de afogamento. O laudo é inconclusivo e exames mais detalhados em amostras de sangue e vísceras de Joaquim foram pedidos.
Uma das suspeitas da polícia é que o menino tenha sido morto com uma alta dosagem de insulina. Ele é diabético e a família descobriu a doença e começou a tratá-lo recentemente. Porém, como a insulina é rapidamente processada pelo organismo, ela pode não aparecer nos exames.
Segundo a polícia, há várias contradições nos depoimentos de Guilherme Longo e Natália Ponte. O padrasto, que já fez tratamento para se livrar do vício em drogas, contou à polícia que já teve um comportamento agressivo e que numa clínica para dependentes químicos, teve um desentendimento com um paciente e deu um soco nele. Natália disse que foi ameaçada de morte uma vez por Guilherme e que ele contou já ter espancado dois homossexuais. Segundo Natália, Guilherme já teria batido na própria mãe.
O padrasto é o principal suspeito de matar Joaquim.
À polícia, Guilherme afirmou que a relação com Natália era boa e que só se desgastou em setembro, quando ela descobriu que ele tinha voltado a usar drogas. Segundo o "Fantástico", Natália disse que desde o começo do ano não tinha um bom relacionamento e que sempre era ameaçada pelo marido.
O padrasto declarou que o seu relacionamento com Joaquim também era bom e que era muito carinhoso com o menino. A mãe da criança, no entanto, disse que Guilherme tinha ciúmes de Joaquim e dela, e que ele chegou a pedir para ela deixar de trabalhar na clínica onde era psicóloga.
"São contradições que pesam, às vezes, um esquecimento, um detalhezinho que é irrelevante, mas tem ali contradições importantes", afirmou o delegado Paulo Henrique Martins de Castro.
O advogado de Guilherme, Antônio Carlos de Oliveira, diz que as contradições do casal são "irrelevantes".
"É a mesma coisa de discutir que o crime ocorreu na sala de jantar. Aí vamos discutir que os talheres eram de uma cor e o outro fala que os talheres eram de outra cor. Isso em nada vai contribuir para se chegar até a autoria do crime", afirmou Antônio Carlos de Oliveira, advogado de Guilherme.
Guilherme afirmou que dias antes do desaparecimento de Joaquim aplicou em si mesmo 30 unidades de insulina para evitar a fissura para usar mais drogas. Ele disse que a aplicação o deixou mais calmo e tranquilo. Para a polícia, as doses de insulina que Guilherme diz ter aplicado nele próprio podem ter sido injetadas em Joaquim.
A TV Globo divulgou mensagens que foram trocadas pelo computador entre Natália e Guilherme, seis dias antes de Joaquim desaparecer. Eles discutiram por causa da cocaína que ele tinha voltado a usar.
"Você enfia esse troço no nariz. e no outro dia você fica igual a um defunto nessa casa. Você chega, dorme, não me ajuda", escreveu Natália.
Guilherme sugere que vai acabar com a própria vida.
"Eu vou desistir, amor. De verdade. De hoje, não passa. Vou te fazer sofrer uma última vez e talvez me odiar para sempre. Mas eu não vou fazer mal algum mais para ninguém", disse Guilherme.
Natália escreve: "Então, se você quer mesmo parar, abre o jogo com as pessoas que te amam. Porque eu fico com medo de você aqui".
Quatro dias depois dessa conversa, Guilherme tentou se matar tomando 10 comprimidos de calmante e foi internado num hospital por intoxicação.
Uma gravação da Polícia Militar divulgada pela TV Globo mostrou que Guilherme Longo ligou para a polícia para denunciar o desaparecimento de Joaquim, mas Natália aparentemente estava ao lado do padrasto no momento do telefonema. No áudio, Guilherme diz ao policial que a família já procurou por toda parte pela criança, que não era de se esconder.
Para o advogado do pai de Joaquim, Alexandre Durante, a mãe do menino foi, no mínimo, omissa.
"No mínimo ela foi omissa, no mínimo ela poderia ter feito alguma coisa que não fez. O que se questiona hoje é: até onde ela era vítima, até aonde ela poderia ter feito alguma coisa antes que não o fez, e por quê?", questiona o advogado do pai do Joaquim, Alexandre Durante.
O pai de Joaquim, Arthur Paes Leme, contou que por várias vezes pediu à Natália para permitir que o menino morasse com ele ou com os avós maternos, pois sabia que Guilherme tinha problemas com drogas.
"Eu sabia do passado dele e pedi para deixar vir morar comigo. Ela falava: 'não, não tem problema, não tem problema'. Aí eu falei: 'então, se você não quer deixar morar comigo, deixa morar com seus pais, com Vicente e com a Moroca'. Porque eu confio demais neles. Ela falou: 'não, não precisa'", disse Arthur.
Segundo Arthur, quando Joaquim foi internado, ele voltou a pedir a Natália que o menino se mudasse. Na época, Guilherme teria batido o carro.
"Aí novamente eu fui lá e pedi para ela: 'Natália, eu não quero brigar'. Eu sempre conversei informalmente mesmo, porque eu sei que, para o filho, é muito importante morar com a mãe. O pai pode ser pai, mas mãe é mãe", disse Arthur.
O pai de Joaquim cobra Justiça no caso do filho e diz que, para ele, o menino "é eterno".
"Quero que realmente os culpados sejam cobrados. Não posso dizer se foi ele, se foi ela, se eles estão envolvidos, não posso ter certeza, mas eu quero realmente que a Justiça seja feita, mostrar a verdade mesmo do que aconteceu. Só espero isso, porque o meu filho não volta. Na verdade ele nunca foi, né? Acho que, para mim, ele é eterno. Sempre está do meu lado, sempre está comigo, o sorriso dele", afirmou Arthur.
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