Do UOL, em São Paulo
Assim como você organiza as tarefas de seu dia, como ir ao banco, almoçar, retornar ao trabalho e estudar um idioma, por exemplo, animais também pensam em seu cotidiano de forma a organizá-lo e, muitas vezes, fazem isso de forma coletiva. Isso é o que afirma um novo estudo, conduzido pela Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, e divulgado nesta semana no periódico científico Biology Letters.
Os pesquisadores estudaram o comportamento de formigas e chegaram à conclusão que esses insetos muitas vezes mudam a ordem de suas atividades ao longo do dia denotando sofisticação na organização de tarefas e levando em conta preferências e necessidades.
Para chegar à afirmação, os cientistas Taka Sasaki e Stephen Pratt —ambos autores do estudo e com experiência na análise de animais formadores de colônias— realizaram o seguinte experimento: oferecer a uma colônia de formigas da espécie Temnothorax rugatulus, desabrigadas de seu formigueiro original, dois novos formigueiros com características distintas e ver por qual deles os insetos optariam.
Em um dos casos, o formigueiro tinha entradas com tamanhos variados; em outro, a exposição à luz era alterada artificialmente.
Isso estimulava as formigas a fazerem escolhas na busca pelo novo lar, já que, naturalmente, elas tendem a preferir ninhos com entradas pequenas e com baixo nível de intensidade de luz.
"É como acontece com seres humanos escolhendo um imóvel para compra. São muitas opções e variáveis a considerar, como tamanho, vizinhança e número de quartos, por exemplo. O processo é similar para as formigas, sendo quase impossível achar um formigueiro com tudo o que elas querem", pondera Pratt na divulgação do estudo.
Priorização e renúncia
Dessa forma, segundo o cientista, as formigas demonstraram um notável nível de inteligência ao avaliarem as possibilidades e limitações de seus novos formigueiros. De acordo com os dados da pesquisa, as formigas foram obrigadas a priorizar suas preferências e renunciar a alguns itens em nome de outras características, ordenando as escolhas.
Assim, os insetos demonstraram valorizar mais um novo formigueiro com menor exposição à luz em detrimento de um formigueiro com entradas menores, apontando a capacidade de consenso em decisão e priorização de necessidades.
"Tínhamos centenas de formigas e, de alguma forma, elas chegaram a uma decisão", diz Pratt. "Como elas fazem isso sem ter ninguém no comando dizendo o que tem de ser feito?", se pergunta o cientista, que planeja novas pesquisas junto a esses insetos de forma a, um dia, entender como algumas formigas tem a capacidade de liderar a colônia.
O objetivo de Pratt e Sasaki, ressalta o estudo, é conseguir aplicar esse conhecimento às relações humanas para que decisões tomadas coletivamente se mostrem tão fáceis para nós quanto o são para as formigas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário