Fabiana Marchezi - Do UOL, em Campinas
Depois de se negar a passar por acompanhamento psicológico antes de entrar na fila da cirurgia para mudança de sexo, um transexual de 35 anos resolveu acabar com sua angústia e cortou, com um bisturi, os próprios testículos em Ribeirão Preto (335 km de São Paulo).
De acordo com o boletim de ocorrência, Alessandro Soares da Costa teria se automutilado porque não conseguiu agendar a cirurgia de mudança de sexo. Ele foi socorrido pelo Samu para a Santa Casa da cidade.
Segundo informações do hospital, Costa passou por cirurgia de reconstituição dos órgãos mutilados, já foi transferido para o quarto, está bem e não corre risco de morte. Ele mora sozinho em uma casa alugada, e sua família é de Palestina (497 km de São Paulo).
O presidente da ONG Arco-Íris, Fábio de Jesus, contou que Costa não pôde entrar na lista de espera porque se negou a passar por acompanhamento psicológico, que é obrigatório antes do procedimento. “Ele queria pular essa parte, queria fazer a cirurgia direto”, disse.
A Secretaria Estadual de Saúde informou que há apenas três pessoas registradas na lista de espera do Departamento Regional de Saúde de Ribeirão Preto e confirmou que o nome de Costa nunca esteve nessa lista.
Mais de 70 interessados
Desde 2006, quando o Sistema Único de Saúde (SUS) liberou a cirurgia de readequação de sexo, esse é o quarto caso de automutilação em Ribeirão Preto. Para Fábio de Jesus, “a pessoa fica muito deprimida por não conseguir o procedimento e acaba tentando por meios próprios”.
Jesus também revelou que ao menos 70 transexuais da região têm interesse nesse tipo de cirurgia. “Infelizmente os hospitais de Ribeirão ainda não fazem esse tipo de procedimento. A espera pela cirurgia feita em São Paulo leva de três a quatro anos”, informou.
Ambulatório exclusivo
Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde esclareceu que os pacientes interessados em se submeter à cirurgia de mudança de sexo devem procurar uma unidade de saúde no município onde residem e pedir encaminhamento ao Departamento Regional de Saúde.
Todos os casos são repassados para o Centro de Referência e Treinamento DST/Aids, em São paulo, onde há um ambulatório exclusivo para travestis e transexuais e onde são feitos todos os exames e o acompanhamento psicológico necessários antes do agendamento da cirurgia em hospitais credenciados.
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