O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, renunciou nesta segunda-feira ao cargo ocupado por 23 anos. Ele abandona também a presidência do Comitê Organizador Local (COL) da Copa 2014. Ambos as funções passam a ser ocupadas por José Maria Marin.
A renúncia foi oficializada por Marin em carta lida no Rio de Janeiro. O novo presidente disse que permanecerá no cargo.
Ainda na semana passada, Teixeira pediu afastamento por licença médica, o que aumentou os boatos sobre a possibilidade de renúncia.
O anúncio chegou pouco após a publicação de reportagens que apontavam ligações de Teixeira com a empresa Ailanto, investigada por superfaturamento no amistoso entre Brasil e Portugal, em 2008. O jogo custou R$ 8,5 milhões aos cofres públicos.
Teixeira nega irregularidades.
Há boatos de que Teixeira também estaria descontente com o assédio que sua filha mais nova tem sofrido por causa das denúncias e, além disso, estaria insatisfeito com o tratamento que tem recebido da presidente Dilma Rousseff na organização da Copa de 2014.
Advogado, nascido em São Paulo, José Maria Marin, de 79 anos, foi vereador, deputado e governador de São Paulo entre 1982 e 1983, quando foi apontado ao cargo pelo regime militar.
Títulos e denúncias
A gestão de Teixeira foi marcada por dois títulos brasileiros em Mundiais (em 1994 e em 2002) e pela conquista pelo Brasil do direito de sediar a Copa de 2014. No entanto, também foi marcada por uma série de denúncias.
Após a Copa de 1994, Teixeira foi acusado de pressionar um funcionário do aeroporto no Rio de Janeiro a liberar cerca de 17 toneladas de bagagens da seleção brasileira, no episódio que ficou conhecido como o “voo da muamba”. A carga continha eletrodomésticos trazidos por jogadores e dirigentes esportivos.
O caso fez com que, em 2009, o presidente da CBF fosse condenado, em primeira instância, a ter suspensos seus direitos políticos, além de ficar impedido de assinar contratos com o poder público ou receber benefícios fiscais, ainda que por intermédio de pessoa jurídica, por três anos.
Um ano antes, em 2008, Teixeira foi denunciado pelo Ministério Público Federal por suposto crime de lavagem de dinheiro, por receber US$ 600 mil de conta da empresa Sanud na Suíça. As remessas, em 1996 e 1997, foram descobertas pela CPI do Futebol, em 2001. A verba foi investida na RLJ Participações, empresa de Teixeira.
Apesar das denúncias, ele conseguiu se reeleger no comando da CBF em 2003 e em 2007. E com a escolha do Brasil para sede do Mundial de 2014, seu mandato foi estendido até 2015.
'Propinas'
Desde 2010, porém, as denúncias contra ele se intensificaram. Uma reportagem do programa de televisão Panorama, da BBC, revelou que a Fifa estava impedindo a divulgação de um documento que revelaria a identidade de dois dirigentes da Fifa que foram forçados a devolver dinheiro de propinas em um acordo para encerrar uma investigação criminal na Suíça, em 2010.
Segundo o programa, um dos dirigentes era Teixeira e o outro, seu sogro e ex-presidente da Fifa, João Havelange.
O acordo encerrou uma investigação sobre propinas pagas a altos dirigentes da Fifa na década de 1990 por uma empresa de marketing esportivo, a ISL (International Sports and Leisure).
Até sua falência em 2001, a ISL comercializava os direitos de televisão e os anúncios publicitários da Copa do Mundo para anunciantes e patrocinadores.
Em 27 de dezembro de 2011, a Justiça suíça ordenou que a Fifa abrisse em até 30 dias os documentos do caso ISL, o que, no entanto, ainda não ocorreu. Também em 2011, a Polícia Federal brasileira abriu investigação sobre a denúncia.
Embora Teixeira, 64 anos, venha de fato enfrentando problemas de saúde, especula-se que a possibilidade de que os documentos do caso ISL revelem que ele recebeu propina tenha sido uma das causas de sua renúncia. De http://www.bbc.co.uk/
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