Normalmente resistimos em aceitar muitas coisas que nos acontecem, principalmente as perdas e independentemente do motivo que as provoca, nunca queremos nos distanciar daqueles que gostamos, amamos.
Isso é mais facilmente observado quando os filhos resolvem sair da casa dos pais para estudar, trabalhar ou para viver com outra pessoa. O sentimento mais comum que aflora nesses pais é a preocupação com tudo o que pode ocorrer no mundo "lá fora".
Sabíamos, desde o nascimento destes, que um dia teriam de viver a própria vida, sem a proteção do lar e tivemos todo o tempo para prepará-los, mas incrédulos, não aceitamos quando chega essa data. Onde e com quem vai morar, o que comerá e milhares de coisas nos preocupam nesse momento.
Sem percebermos estamos sendo extremamente egoístas, pois a partida de um filho, além de prevista, é um direito seu, de construir a própria vida, agora com os alicerces por ele fincados e arcando com as consequências de sua solidez.
A nossa responsabilidade era a de ensinar-lhe que a vida, assim como uma casa mal construída, sem as fundações necessárias, acabaria trincando ou até desabando, mas passado o período da instrução, nada mais podemos fazer além de observar como ele construirá a sua.
Passarão por muitas experiências desnecessárias, algumas sobre as quais já haviam sido informados, e como todo jovem, mesmo que depois se arrependam, queria realizá-las, achando que com eles o resultado poderia se outro.
As escolhas que agora realizará, assim como os resultados destas, serão de sua única responsabilidade e não poderemos mais interferir. Não seremos mais consultados e mesmo quando tentarmos dar alguma opinião, normalmente ela será recusada. Só nos restará, quando possível, acudir.
Foi o que ocorreu com nossos bisavós, avós, pais, conosco e agora com nossos filhos. Nada mudou, mas insistimos em não aceitar que os filhos, os amigos, as paixões e os amores não nos pertencem, mas são seres distintos, com desejos, ambições e necessidades próprias, que não necessariamente são as mesmas que as nossas.
Não queremos aceitar que, assim como os filhos que um dia resolvem partir, aqueles que de nós um dia se aproximaram também podem, por algum motivo, querer se afastar, ou por não sermos o que pensavam que fôssemos ou simplesmente por, com o tempo, terem mudado seu desejo.
É normal que nessas ocasiões fiquemos tristes, chateados, mas pensando bem, nas duas hipóteses possíveis - se não gostávamos mais da pessoa ou se ela não gostava mais de nós-, não há razão para continuarmos juntos, pois em nenhum dos casos seremos felizes.
Durante nossas vidas - por motivos e de formas diversas-, ocorrem muitas perdas, comerciais, profissionais, amorosas ou por morte e nada podemos ou devemos fazer além de aceitá-las, pois quando as perdas são aceitas como parte da vida, não há chance para o surgimento de sentimentos negativos.
Devemos aprender a amar sem pretender ter a posse do que nunca foi nosso, seja um filho, uma paixão ou um amor, aproveitando o que e enquanto temos, porque de nada adiantará lutar pelo que já se foi. O que para nós é perda, para o outro talvez seja um ganho, em sua busca de ser mais feliz, em novo lugar, com outra profissão ou pessoa e, se realmente a amamos, sua felicidade é o que importa.
Às vezes é necessário aceitar a falta da presença física dos que amamos, para que sejam felizes, mesmo que longe de nós.
João Bosco Leal www.joaoboscoleal
*Jornalista, escritor, articulista político e produtor rural
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