Tata Ngunzetala, líder de um terreiro de candomblé | Foto: Reprodução / TV Globo
Líderes candomblecistas dos municípios de Águas Lindas, Girassol e Edilândia, todos no interior de Goiás, denunciaram as ações truculentas de policiais militares em ao menos 10 terreiros de candomblé da região nos últimos dias, durante as buscas das forças de segurança pelo suspeito de diversos homicídios no Distrito Federal, Lázaro Barbosa. As informações são do jornal Correio Braziliense.
Em Águas Lindas, distante cerca de 50 km de Brasília, o babalorixá André Vicente de Souza, de 81 anos de idade, registrou um boletim de ocorrência na noite de sexta-feira (18). após o terreiro liderado por ele ser alvo de buscas duas vezes em uma semana, segundo ele, de forma abusiva e violenta.
Segundo Pai André, como é conhecido o babalorixá, os militares que buscam por Lázaro Barbosa, suspeito de ser o autor da chacina de uma família de quatro pessoas, em Ceilândia-DF, estiveram no terreiro pela primeira vez na terça-feira (15).
“Na primeira vez que vieram, eles (policiais) bateram no meu caseiro e eu não estava em casa”, contou o babalorixá.
Três dias depois, na sexta-feira (18), os militares voltaram e, mais uma vez, agiram com violência, enquanto perguntavam sobre o paradeiro de Lázaro.
“Eles puxaram ele (caseiro) e bateram de novo, com cano de foice. Bateram nas coxas, nádegas, costelas, panturrilha. Ele está todo dolorido”, relatou o candomblecista.
Pai André garante que as imagens de símbolos religiosos divulgadas pela Polícia como se fossem da casa de Lázaro, são, na verdade, do terreiro comandado por ele. O religioso denuncia que, além das agressões físicas e verbais, objetos religiosos e portas foram quebradas.
“Eles já chegaram com agressão e palavras. Eu disse ‘eu já tenho idade para ser avô de vocês’. E eles gritando ‘cala a boca’, dizendo que ‘vai apanhar’ e que quem ‘fala demais..’, não sei bem a expressão", lembra. O caseiro foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para exame de corpo e delito.
A publicação das imagens de assentamentos de candomblé por parte das polícias de Goiás e do Distrito Federal gerou uma grande confusão na quarta-feira (16), por conta da associação realizada pelas forças de segurança com “rituais satânicos”. Especialistas foram ouvidos pelo Bahia Notícias e apontaram racismo religioso na divulgação (veja aqui).
“Ao contrário do que se imaginaria, aqui a gente sente dois medos: de Lázaro poder invadir a nossa casa, e da polícia, que sempre invade”, declarou a ialorixá Isabel Cristina Moreira, de 57 anos, mais conhecida como Mãe Bel, líder do terreiro Ilê Asé Olona, no distrito de Girassol, em Cocalzinho-GO.
“Só na região de Águas Lindas, Girassol e Edilândia já cadastramos mais de 10 casas que foram abordadas ostensivamente, inclusive com arrombamentos e tentativas de pular o muro”, afirmou Tata Ngunzetala, líder de um terreiro de candomblé da nação Angola.
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