Anteriormente, ministro havia dito que foi avisado do problema no dia 8 de janeiro, mas, à PF, relatou que foi dias depois. Em nota, ministério disse que Pazuello soube da situação no dia 11 de janeiro
Fonte: G1**Foto: Sérgio Lima/Poder360
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, mudou sua versão inicial sobre quando ficou sabendo do risco de colapso na crise da saúde em Manaus. Pazuello prestou depoimento à Polícia Federal no dia 4 de fevereiro, em Brasília, no inquérito sigiloso do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura se ele foi omisso nas ações de combate à pandemia em Manaus.
O jornal "O Estado de S. Paulo" revelou o documento com o depoimento de Pazuello, ao qual a TV Globo também teve acesso.
No depoimento, o ministro afirma que não foi informado sobre a falta de oxigênio em Manaus no dia 8 de janeiro, e sim dois dias depois.
A informação contradiz um documento oficial entregue pela Advocacia-Geral da União (AGU) ao STF, assinado pelo advogado geral, José Levi. Ele afirmou que o Ministério da Saúde ficou sabendo da falta de oxigênio em Manaus, no dia 8, pela empresa White Martins, fabricante do produto.
No depoimento, Pazuello afirma que só no domingo, dia 10 de janeiro, às 21h, realizou uma reunião com o governador do estado do Amazonas. E nessa oportunidade foi relatado um problema de abastecimento de oxigênio no estado. E que no dia 11 convocou uma reunião com todos os secretários municipais de saúde do Amazonas e o secretário estadual para entender a abrangência da falta de oxigênio e demais dificuldades no atendimento à saúde.
A Polícia Federal também perguntou ao ministro sobre o recebimento do documento da White Martins notificando a respeito da possível insuficiência no fornecimento de oxigênio para a demanda no Amazonas. Pazuello explicou que o documento nunca foi entregue oficialmente ao Ministério da Saúde , e que a empresa nunca realizou contatos informais com representantes do ministério.
Porém, em entrevista coletiva no dia 18 de janeiro, o ministro disse que foi avisado pela empresa no dia 8 de janeiro.
"Essa missão voltou no dia 6 com esses dados. 6 de janeiro. No dia 8 de janeiro, nós tivemos a compreensão a partir de uma carta da White Martins de que poderia haver falta de oxigênio, se não houvesse ações pra que a gente mitigasse esse problema", afirmou Pazuello na ocasião.
"Não havia a menor indicação de falta de oxigênio [final dezembro]. Para vocês terem uma ideia, a quantidade de oxigênio que a White Martins fabrica por dia em Manaus é de 28 mil metros cúbicos e o consumo era de 17 mil. A White tinha flexibilidade de trazer quase o dobro, a elevação foi muito rápida. Nós tomamos conhecimento que a White chegou no seu limite quando ela nos informou", continuou o ministro na coletiva de janeiro.
"Ou seja, se nós tivéssemos tido essa informação, por menor que seja [...] Nós só soubemos dia 8 de janeiro. Quando chegamos lá, dia 4, o problema não era oxigênio", completou o ministro.
AGU
No documento da AGU entregue ao STF, o ministro José Levi diz que o Ministério da Saúde soube da crítica situação de esvaziamento de estoque de oxigênio em Manaus em 8 de janeiro, por meio de e-mail da fabricante do produto.
"Até então, o Ministério da Saúde não havia sido informado da crítica situação do esvaziamento de estoque de oxigênio em Manaus, ciência que apenas se operou em 8 de janeiro, por meio de e-mail enviado pela empresa fabricante do produto", afirmou a AGU.
Com base em outro documento enviado pelo próprio ministro da Saúde para a procuradoria-geral da República, e que serviu de base para o pedido de abertura do inquérito, o procurador-geral, Augusto Aras, relatou que a falta de oxigênio chegou ao conhecimento do Ministério da Saúde no dia 8 de janeiro.
"No relatório parcial de ações – 6 a 16 de janeiro de 2021 (fls. 9/11), datado de 17/1/2021 também subscrito pelo representado consta que foi detectado, ainda, logo no início do período, a gravíssima situação dos estoques de oxigênio hospitalar em Manaus, em quantidade absolutamente insuficiente para o atendimento da demanda crescente. Tal problema chegou ao conhecimento do ministério no dia 8 de janeiro, por meio de um e-mail enviado por Petrônio Bastos, da White Martins (fabricante do produto)", escreveu o procurador.
No depoimento à PF, quando foi perguntado sobre o relatório do ministério que cita o e-mail da White Martins, Pazuello disse que houve um "equívoco" de um servidor da Saúde que passou informações para a AGU.
Pazuello afirmou ainda que o equívoco se deu em virtude do prazo exíguo de 48 horas para dar a resposta ao STF.
O ministro também relatou que a partir do dia 12 de janeiro mudou a estratégia para o fornecimento de oxigênio para o Amazonas, com a requisição e transporte de usinas geradoras do produto para que o oxigênio da White Martins, principal fornecedora, ficasse como uma reserva. Falou também do transporte de pacientes do Amazonas para outros estados.
Agora, os investigadores buscam novas informações sobre se a suposta omissão do ministro Eduardo Pazuello contribuiu para o colapso da rede de saúde no Amazonas. A Polícia Federal está ouvindo autoridades locais, funcionários do Ministério da Saúde e de empresas fornecedoras de insumos.
A PF também analisa dados sobre a compra de medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento da Covid-19. E vai checar e-mails trocados entre representantes do Ministério da Saúde e as secretarias do Amazonas e de Manaus.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que "Eduardo Pazuello teve conhecimento do colapso de oxigênio apenas no dia 11 de janeiro".
"No dia 8 de janeiro, o ministro recebeu uma ligação do secretário estadual de saúde do Amazonas solicitando apoio no transporte de cilindros de oxigênio, sem mencionar nenhum colapso", continuou o ministério.
Também em nota, a White Martins disse que sinalizou o risco de falta de oxigênio para o governo de Manaus na primeira semana de janeiro. A empresa afirma que também avisou os hospitais e que foi chamada para uma reunião com Pazuello no dia 11.
"No dia 10/01, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, convidou os representantes da White Martins, por meio do comitê estadual, para uma reunião em Manaus, na manhã do dia 11/01, para tratar do tema", informou a empresa.
Aplicativo
Pazuello foi perguntado sobre um aplicativo feito pelo ministério e que orientava sobre o uso da hidroxicloroquina como tratamento precoce da Covid-19. O ministro afirmou que o ministério não tem protocolo para uso de qualquer medicamento, incluída a hidroxicloroquina.
Sobre o aplicativo Tratecov, Pazuello disse que ficou ativo dois dias, e foi retirado do ar pela falha de indicar o uso da hidroxicloroquina. Ele reconheceu que o aplicativo era apenas para médicos, mas estava aberto a qualquer pessoa.
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