por Fernando Duarte**Foto: Clauber Cleber Caetano/PR
Perto do bicentenário da Independência do Brasil - ao menos da versão contada pela historiografia oficial, o país segue sem poder comemorar uma real independência. Em 2020, a crise da Covid-19 atrapalhou inclusive o nosso faz de conta cívico. Infelizmente, 198 anos depois, seguimos como uma nação em construção, mas que sequer aprende com os próprios erros. Trocam-se os personagens, alteram-se alguns pontos do roteiro, porém o desfecho segue praticamente o mesmo.
Como estamos em um momento de "celebrar os heróis", para usar respeitosamente o mote do secretário nacional de Cultura, é importante lamentar o quanto é triste saber que o Brasil insiste nessa novela de protagonista versus vilões. Não há, no cenário político, apenas mocinhos. Todos são um pouco de "bandidos", ainda que cada um tenha um malvado favorito de estimação. Esse desapontamento é algo tão rotineiro, que sequer nos damos conta de como apostamos há tanto tempo na busca de uma fórmula perfeita que nunca vai existir.
Seguimos dependentes de erros históricos. A corrupção é um problema antigo e estamos longe de eliminá-la. Mesmo que tapemos o sol com a paneira, fingir que esse mal não está estruturalmente ligado ao Estado brasileiro é só um consolo. Sempre funcionou - mesmo que malmente - dessa forma e não existe uma força moralizadora capaz de remexer o status quo daqueles que detêm algum tipo de poder.
Outro problema palpável que participa da nação desde que ela era um embrião: o racismo. Agora, a ferida ao menos está exposta. Ainda assim, há quem negue a existência da discriminação com base no equivocado conceito de "raça humana". Em outras palavras, nossa sociedade se baseia em um passado que deveria ter nos ensinado algo. Não há independência quando continuamos reféns dessas lógicas perversas que nos acompanham desde sempre.
Aí, insistimos na política de Macunaíma, quando temos um herói sem caráter como símbolo-mor da nação que teríamos sido. Não há Sarney, FHC, Lula, Dilma, Temer ou Bolsonaro. Todos esses que sentaram na cadeira presidencial não deveriam ser ídolos. Muito menos heróis. Por isso, Mário de Andrade segue tão atual. Independência de quem, cara-pálida? Pra quem? O coronavírus pelo menos nos poupou de fingir explicitamente que ela existe efetivamente.
Este texto integra o comentário desta terça-feira (8) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.
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