por Jamile Amine
Para ministro, Enem não foi feito para corrigir injustiça | Foto: Agência Brasil
Encabeçado pela jornalista baiana Maíra Azevedo, a Tia Má, o coletivo Potências Negras faz uma campanha para sensibilizar o governo federal sobre a importância do adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano, por causa da pandemia do novo coronavírus.
“A realização da prova do Enem no prazo estipulado pelo Ministério da Educação vai impedir que milhões de jovens das periferias e negros realizem o sonho de entrar na universidade. De acordo com o IBGE, 39% dos domicílios brasileiros ainda não têm nenhuma forma de acesso à internet.? A pandemia do corona vírus maximizou as desigualdades. A população preta e pobre é a mais vulnerável e segue sem acesso a serviços básicos. Como cobrar estudos quando estão morrendo?”, questiona o grupo, em manifesto publicado nas redes sociais.
“Educação é um direito de todos — está na Constituição de 1988 —, mas a prática retrata as desigualdades históricas. O acesso às universidades no Brasil por muito tempo foi exclusivo para pessoas brancas e da elite. A Constituição de 1824, no Império, proibia que negros tivessem acesso ao ensino. Já a Lei do Boi, de 1968, facilitava o acesso ao Ensino Superior de filhos de grandes fazendeiros. E a realização da prova do Enem, no meio dessa crise de saúdde e econômica, seria uma volta a esse passado”, argumenta o Potências Negras, destacando que nos últimos anos, por conta de ações afirmativas como as cotas, o percentual de negros nas universidades teve um aumento significativo.
O grupo comparou ainda as condições desiguais de estudantes de classes sociais diferentes, agravadas pela pandemia. “Enquanto jovens brancos de classe média podem continuar seus estudos a distância, jovens negros não têm acesso a computadores e internet de qualidade. E ainda querem nos fazer crer na falácia da meritocracia. Em tempos de Covid-19, a demanda das pessoas negras continua sendo a mesma: existir e continuar existindo. Para que todas e todos tenham o direito a condições iguais de acesso ao Ensino Superior, o Enem 2020 deve ser adiado. Se você defende uma sociedade justa e igualitária, você defende o adiamento da prova do Enem!”, conclui o manifesto.
Na contramão, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, defende a realização da prova ainda este ano, em outubro e novembro. Em reunião com o Senado, ao ser confrontado sobre as disparidades e as dificuldades de alunos que estão sem aulas e sem acesso à educação, ele afirmou que o Enem não será adiado e que o exame não foi feito para corrigir injustiças.
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