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sexta-feira, 1 de maio de 2020

Com serviço funerário à beira do colapso, famílias de Manaus convivem com corpos por até 30 horas em suas casas

Por Yan Boechat
O cadáver do aposentado Francisco das Chagas Freitas, 65, ficou sobre o chão de piso de cimento entre a cama e uma mesa pequena que ele mantinha na casa que vivia sozinho em um bairro da periferia de Manaus (Yan Boechat/Yahoo Notícias
Um cobertor de lã sintética com estampas de motivos africanos serviu de mortalha para o corpo de Francisco das Chagas Freitas, de 65 anos, por quase 24 horas. O cadáver do aposentado ficou sobre o chão de piso de cimento entre a cama e uma mesa pequena que ele mantinha na casa que vivia sozinho em um bairro da periferia de Manaus. No meio da tarde de terça-feira, contam os vizinhos, Francisco foi encontrado caído de bruços ao lado da mesa. “Cheguei aqui às cinco da tarde e o encontrei caído, sem vida. Logo chamamos o serviço funerário, estou ligando para eles desde o fim da tarde de ontem, mas só apareceram agora, quase um dia inteiro depois”, diz João Batista das Chagas, irmão de Francisco, revoltado com a espera. 

Preocupado em ver o corpo do irmão por tanto tempo sobre o piso duro, ele decidiu repousar a cabeça de Francisco em um pequeno travesseiro. “A gente sabe que ele se foi, mas mesmo no final queremos dar um conforto, né”, dizia ele, explicando a razão pela qual decidiu colocar o travesseiro para apoiar a cabeça do irmão morto. 

Ninguém sabe do que Francisco morreu. João Batista acha que se tratava de um infarto. “Não foi esse negócio de corona não, meu irmão infartou, ele nem saia de casa”, dizia ele, enquanto o corpo de seu irmão era colocado em um caixão simples pelos funcionários do SOS Funeral, um serviço oferecido pela prefeitura de Manaus para famílias de baixa renda que não tem recursos para arcar com os custos de sepultamento. “Ele tinha hipertensão, diabetes, problema no coração, a morte dele não foi por Covid não”, repetia. Após conseguir que o corpo de seu irmão fosse removido, João Batista ainda precisou esperar horas para que o único médico da cidade que estava atestando os óbitos domiciliares conferisse o corpo de seu irmão e fornecesse os documentos necessários para o enterro. 

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