por Fernando Duarte / BN
A recriação do Ministério da Segurança Pública talvez seja o sinal mais forte até aqui de que o presidente Jair Bolsonaro tem preocupação com a projeção eleitoral do ministro Sérgio Moro. O assunto foi tratado em uma reunião com secretários de segurança pública estaduais e confirmado na manhã desta sexta-feira (23) durante a não coletiva de Bolsonaro antes de viajar para a Índia. Nela, o presidente adiantou que Moro seria contra a medida, mas que há estudos junto aos ministérios e pressão por parte de lideranças como o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Seria esse o início da “fritagem” do ex-juiz?
Bolsonaro é, de longe, o nome mais forte na corrida presidencial de 2022, ainda que falte tanto tempo. E Moro é um adversário em potencial, ainda que não esteja com altos índices nas pesquisas de opinião. Convidado para ser um superministro, comandando áreas-chave como justiça e segurança pública, o ex-juiz transferiu uma parte da credibilidade auferida durante os tempos de estrela da Lava Jato para um governo sem um esboço muito claro do que viria a seguir. Até assumir, Bolsonaro era uma caixinha de surpresas – não que tenha ficado diferente – e Moro apostou no projeto para se capitalizar politicamente, o que tem dado frutos.
Em um primeiro momento, a especulação era que o ministro teria interesse em uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Depois de passada essa fase, percebeu-se que Moro na verdade está de olho no potencial político-eleitoral do posto. O comportamento dele em entrevistas e a forma com que tem lidado com eventuais entraves com o Congresso Nacional e com o próprio presidente mostram que Moro está disposto a aceitar muito para continuar com o projeto de poder a que se predispôs quando ainda estava na 13ª Vara Federal de Curitiba. Ao atuar para defenestrar o PT do governo, o ex-juiz virou um símbolo, um herói da nação, algo maior que Bolsonaro e todas as representações que ele traz no mesmo caminho anticomunista.
Os próximos meses serão decisivos para o embate entre cruzados. De um lado, o bolsonarismo que chegou ao poder e quer se consolidar. Do outro, o lavajatismo de Moro, que apoiou Bolsonaro como uma espécie de ponte para o poder, e tem chances de tentar se desvencilhar do presidente para alçar voo próprio. É uma questão de tempo para que isso aconteça. Como esse segundo grupo é mais meticuloso que o primeiro, a chance de obter êxito na empreitada não é pequena. A dúvida não é como. É quando vai acontecer.
Talvez por isso haja uma “pulga atrás da orelha” na relação entre Bolsonaro e Moro. O ministro é um eminente aliado ou uma eminência parda, esperando o momento adequado para o bote perfeito? Em tempos em que teorias de conspiração dominam a mente de muitos eleitores, não faz mal conjecturar.
Este texto integra o comentário desta sexta-feira (24) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM e Alternativa FM de Nazaré.
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