O MEC manteve a data de abertura das inscrições do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), prevista para terça-feira (21).
Foto: Ana Carolina Moreno / G1
Os erros identificados nas notas do Enem 2019 não são limitados às provas do segundo dia, como havia sido divulgado no sábado (18) pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub. O governo Bolsonaro já identificou problemas nas provas do primeiro dia e ampliou o escopo de análise.
Após comemorar o sucesso na realização do Enem 2019, o MEC (Ministério da Educação) divulgou no sábado que participantes receberam notas erradas. Segundo o governo, o erro partiu da gráfica Valid, que passou a imprimir as provas no ano passado.
Até então, os erros confirmados haviam sido identificados apenas no segundo dia da prova (matemática e ciências humanas). A assessoria do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão ligado ao MEC, confirmou neste domingo (19) que passou analisar também as provas do primeiro dia (linguagens e redação).
De acordo com a assessoria de imprensa do instituto, a ampliação da análise ocorreu para tranquilizar os candidatos após o órgão receber pelas redes sociais muitos pedidos para que fosse considerado o primeiro dia.
No entanto, funcionários do Inep confirmaram à Folha, sob condição de anonimato, que já foi identificado erro na prova de linguagens, do primeiro dia. No sábado, o governo trabalhava com a informação de que os erros poderiam alcançar até 1% dos participantes, o que representaria cerca de 39 mil pessoas. Não há informações se esse novo escopo de análise vai aumentar essa expectativa.
O Inep trabalhava até a tarde de sábado com um universo de análise de 50 mil provas, o que resultaria em um número considerado reduzido de possíveis erros. Mas esse universo muda a todo momento, segundo informações recebidas pela reportagem.
Os primeiros relatos surgiram nas redes sociais na sexta-feira (17), quando o MEC liberou as notas. O governo disponibilizou um email (enem2019@inep.gov.br) para receber reclamações. O estudante Matheus Krabbe, 17, identificou problemas também na sua nota de linguagens, ocorrida no primeiro dia.
“Logo que vi a nota sabia que tinha alguma coisa errada. Porque fui melhor neste ano [2019] do que no ano passado mas a nota era mais baixa”, disse.
Krabbe é de Guarulhos (SP) e quer usar a nota do Enem para uma vaga em relações internacionais na USP —a estadual seleciona parte dos alunos a partir do desempenho no exame. O estudante, que fez cursinho paralelo à uma escola técnica privada, encaminhou a mensagem ao Inep sobre seu caso, mas está pessimista.
“Não posso mais depender disso”, diz. “Na sexta-feira já fui buscar uma bolsa em cursinho”.
Também há relatos nas redes sociais de questionamentos na nota da redação, mas ainda não há confirmações sobre isso. A estudante Thaís Garcia Inocêncio, 21, já encaminhou mensagem ao Inep questionando a nota de redação. Ela recebeu 780 na redação, mas avaliações de professores de seu cursinho, a partir do rascunho do texto, estimavam uma nota bem superior.
“Não acho que houve falha na correção, mas deve ter tido algum erro na digitação”, diz ela, que é paulista e atualmente mora em Londrina (PR).
Thaís chegou a iniciar uma faculdade em jornalismo, cujo ingresso foi pelo Enem, e depois desistiu. Agora, busca uma vaga em psicologia na UEL (Universidade Estadual de Londrina). “O problema é que o Inep não se pronunciou, ninguém falou nada da redação e estou um pouco desesperada”.
O MEC manteve a data de abertura das inscrições do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), prevista para terça-feira (21). Apesar do erro, o governo corre para evitar um estrago maior, inclusive politicamente.
A avaliação, tanto de integrantes do governo quanto de parlamentares que acompanham o MEC de perto, é a de que é preciso esperar qual será dimensão do episódio para calcular um possível dano maior a Weintraub.
Weintraub diz a interlocutores que a realização de um Enem sem problemas sempre foi crucial para sua permanência no cargo.
A preocupação se tornou ainda maior quando sua saída da pasta passou a ser defendida por vários aliados do governo — o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), entretanto, garantiu sua permanência até agora.
Segundo o governo, foram constatados erros na identificação dos candidatos e da respectiva cor de sua prova. A falha ocorreu na gráfica: os arquivos com essas informações teriam chegado ao Inep com divergências, segundo o instituto. O candidato fez a prova de uma cor mas a nota foi corrigida como se fosse de outra.
Além de olhar os casos específicos recebidos por candidatos, o Inep tem feito uma análise estatística que busca inconsistências em toda a base de dados. O Inep ainda não tinha a dimensão do número de atingidos até o início da noite de domingo.
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