Mais de 200 jumentos foram encontrados mortos e 800 em estado de desnutrição numa fazenda em Canudos, no sertão da Bahia, após proibição do abate desses animais pela Justiça Federal em 30 de novembro de 2018.
Os jumentos foram encontrados em uma fazenda localizada numa área de divisa entre as cidades de Canudos, Euclides da Cunha e Uauá. Parte dos animais mortos estava numa vala, e os ainda vivos cambaleavam de fome na fazenda.
A secretária de Meio Ambiente de Euclides da Cunha, Maria Djalma Andrade de Abreu, e o médico veterinário Jared Fernandes Meira escreveram em relatório sobre o caso que os animais seriam destinados a abatedouros em Amargosa e Itapetinga.
O relatório afirma que, de acordo com os responsáveis pelos animais, "o período de permanência [deles] excedeu mais de 60 dias, devido a problemas com os frigoríficos [por causa da proibição do abate]". Os nomes do dono da fazenda e dos responsáveis pelos animais não foram revelados.
ANIMAIS SEM COMIDA NEM ÁGUA
A fazenda, mesmo com a proibição, continuou a receber jumentos. Segundo o relatório, os animais "estão privados de alimentação sólida e hídrica, sendo observado apenas um ponto de água insuficiente e inadequado e inúmeros cochos improvisados vazios e dispostos em um só lugar".
"Grande parte dos animais apresenta estado de caquexia [perda de força], fraqueza, apatia, pelos ouriçados e cambaleantes. Também foram observados inúmeros cadáveres em estado de decomposição, animais agonizando, à beira do óbito, com claros sinais de desnutrição, assim como foi observada uma vala de desova de cadáveres", relata o documento.
A Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura de Euclides da Cunha informou que não aplicou multa por crime ambiental (maus-tratos aos animais) aos responsáveis pelos animais porque a fazenda está numa área da cidade de Canudos - antes do relatório, suspeitava-se que a propriedade era na área de Euclides da Cunha. A reportagem não conseguiu contato com a Prefeitura de Canudos para comentar o caso.
A Adab (Agência de Defesa Agropecuária da Bahia) informou que duas pessoas responsáveis pelo confinamento ilegal dos animais foram multados em mais de R$ 40 mil e que busca auxílio de fazendas vizinhas para receber os bichos para que eles possam se alimentar e beber água.
O Ministério Público da Bahia informou que marcou reunião com a Secretaria de Meio Ambiente de Euclides da Cunha para esta quarta-feira (6), para discutir uma solução para o caso.
No sábado passado, os cerca de 800 jumentos que estão na fazenda em Canudos receberam milho, por meio de doação da Prefeitura de Euclides da Cunha. A transferência depende da análise da Adab sobre se a propriedade tem condições de receber os animais de forma provisória.
A Adab informou por meio do diretor de Defesa Animal, Rui Leal, que ainda não fez avaliação da fazenda.
A Bahia é o único estado do Brasil com frigoríficos autorizados pelo Ministério da Agricultura para a realização dos abates de jumentos. Eles estão em Simões Filho (Cabra Forte), Amargosa (Frinordeste) e Itapetinga (Frigorífico Sudoeste). Desde julho de 2017 que os abates ocorriam no estado, tendo como destino a China, onde se extrai da pele e do couro do animal uma substância para fazer remédio que supostamente combate o envelhecimento, aumenta o desejo sexual nas mulheres e reduz doenças do órgão reprodutor feminino.
JUMENTOS VENDIDOS POR R$ 30
Os animais vinham sendo capturados em estradas do Nordeste ou comprados por até R$ 30 e levados para o abate. Dados do Ministério da Agricultura apontam que a Bahia exportou para o Vietnã 1.280 toneladas de carne e couro de "cavalos, asininos e muares" neste ano. Para Hong Kong, foram 24,4 toneladas. Mas com os casos de maus-tratos registrados por Polícia Civil e Adab em Itapetinga e na cidade vizinha de Itororó, os abates de jumentos na Bahia foram proibidos por decisão liminar (temporária) da Justiça Federal.
A Justiça Federal, em São Paulo, também em caráter liminar, proibiu os abates de jumentos em todos os estados do Nordeste. Os três frigoríficos da Bahia, apesar de não serem parte nas ações na Justiça Federal, entraram com recursos judiciais pedindo a liberação dos abates. Fonte: UOL
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