Na tarde da quarta-feira, 3 de janeiro, a deputada federal Cristiane Brasil estava no aeroporto de Fernando de Noronha. Ela embarcava de volta para o Rio de Janeiro após as festas de fim de ano, quando seu celular tocou. Do outro lado da linha era seu pai, o ex-deputado Roberto Jefferson. Sem meneios, ele perguntou se ela gostaria de se tornar ministra do Trabalho, cargo que estava vago desde a saída, uma semana antes, do deputado federal Ronaldo Nogueira, do PTB do Rio Grande do Sul. Depois de ouvir o sim da filha, Jefferson tomou a iniciativa de telefonar para o deputado Jovair Arantes, de Goiás, líder da bancada do PTB na Câmara, que curtia a tarde na praia de Porto de Galinhas, no litoral pernambucano. Queria a anuência de Jovair para a escolha de Cristiane, que, num galope final, desbancou políticos tidos como favoritos ao cargo. Segundo Jefferson, o nome dela foi uma sugestão feita pelo próprio presidente, Michel Temer, durante uma reunião no Palácio do Jaburu que contou também com a presença do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. As informações são da Época.
Nesse rito sumário, Cristiane, que foi citada por dois delatores da Lava Jato em negociações para a compra de apoio político e recebimento de caixa dois em campanha, virou a nova titular da Pasta do Trabalho. “Na minha frente, o Temer mandou fazer o ato [de nomeação], que no dia seguinte já estava publicado”, relata Jefferson, pai orgulhoso. Apesar de negar qualquer gestão pessoal para que Cristiane fosse a escolhida, Jefferson antes já havia pleiteado a nomeação da filha para o Ministério da Cultura. A preferência de Temer acabou recaindo, porém, no jornalista Sérgio Sá Leitão. Ao anunciar a nomeação de “Cris”, a mais velha de seus três filhos, Jefferson chorou diante das câmeras, bem a seu estilo performático, uma herança dos tempos de apresentador de TV na década de 1980. Com as ênfases tonais, as pausas dramáticas e o domínio gestual que lhe são característicos, disse que aquilo era um “resgate”, por tudo que havia sofrido desde que se tornara pivô do escândalo do mensalão.
Foi um desfecho rápido para um episódio que ameaçava se tornar uma novela. Na véspera, o governo recuara da indicação do deputado federal Pedro Fernandes, do PTB do Maranhão, para o Ministério do Trabalho, Pasta que, no governo Temer, virou um feudo petebista. O motivo da desistência tem a ver com o intrincado xadrez político no Maranhão. Outrora aliado da família Sarney, Fernandes se bandeou para o lado do governador Flávio Dino, do PCdoB. O recuo de Temer foi atribuído a um veto de José Sarney, que não gostaria de ver em posição de destaque um adversário de palanque. O ex-presidente, no entanto, nega qualquer ingerência na decisão. O fato é que a ligação de Fernandes com Dino fertilizou o terreno para Jefferson assumir o protagonismo naquilo que é sua especialidade: manejar o partido para usá-lo como moeda de troca em barganhas políticas com o governo de plantão. Com breves intervalos, Jefferson, no exercício formal da presidência do partido ou por meio de prepostos, como a filha, comanda o PTB desde 2003. Com ou sem mandato de parlamentar, dentro ou fora da prisão, Jefferson se tornou a autoridade suprema da sigla, uma das mais fiéis aliadas do governo Temer. A bancada do PTB foi a primeira a fechar questão a favor da reforma da Previdência, prevista para ir a plenário em fevereiro.
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