Vendedores de água, doces e picolés são as fachadas preferidas dos bandidos que entram nos coletivos
Se você é um daqueles que, no calor de Salvador, levanta as mãos para agradecer quando um vendedor de água mineral entra no ônibus, vai ter que repensar a prática. Ou melhor, talvez você precise erguer os braços, mas por outro motivo.
Assaltantes de ônibus da capital baiana estão investindo em novos disfarces para praticar o crime. Vendedores de água, doces e picolés são as fachadas preferidas dos bandidos que entram nos coletivos com caixas de papelão e isopor para confundir os passageiros. De acordo com o delegado e coordenador do Grupo Especial de Repressão a Roubos de Coletivos (GERC), José Nélis de Araújo, esse tipo de registro já configura cerca de 30% das queixas.
Aline Vilas Boas, de 21 anos, passou por esse susto há cerca de dois meses. “Entrei no ônibus e já tinha um baleiro sentado, observando todo mundo, estranhei porque geralmente eles ficam em pé apresentando o produto, mas depois distrai e esqueci. Foi quando ele levantou e sacou a arma, anunciando o assalto”.]
De acordo com Aline, o criminoso possuía um dos coletes de regulamentação disponibilizados pela Prefeitura. No momento da ação criminosa, a estudante ouvia música pelo fone de ouvido e não entendeu imediatamento quando o assaltante anunciou o assalto. “Foi um susto, ele levantou e começou a falar com a mão dentro da caixa, achei que ia sair entregando aos passageisos, como os vendedores de verdade costumam fazer, mas naquele momento, na verdade, já era assalto. Ele foi agressivo, puxou meu celular pelo fone e eu entendi na hora do que se tratava a movimentação”, conta.
A farmacêutica Wilma Costa, de 29 anos, também já foi enganada pelo disfarce de um vendedor de picolé. “Eu era a única no fundo do ônibus, o assaltante entrou e foi direto me ‘oferecer’ o produto. Sentou do meu lado e puxou uma peixeira de dentro da caixa de isopor. Não tive para onde correr, entreguei o celular e a carteira, ele colocou dentro da caixa e pediu o ponto”.
Em ambos os caso as vítimas não registraram queixa, o que dificulta o trabalho do GERC. “A gente precisa que as pessoas compareçam para nos notificar sobre a ocorrência, só a partir disso conseguimos alimentar as estatísticas e a equipe de inteligencia do GERC pode montar uma ação específica para esses casos”, explica o delegado Nélis.
Ao Aratu Online, Nélis contou que, para prevenir a nova prática dos criminosos, o grupo deve se juntar com as empresas de ônibus para que uma nova postura seja adotada pelos motoristas e cobradores. “O que a gente deve fazer de imediato é um acordo com os rodoviários, para que eles parem de dar essas caronas para os vendedores ou pelo menos evitem, a fim de que esses índices deixem de subir”.
Mas a medida preocupa as duas classes. O comerciante Jaime Carvalho passa os dias trabalhando dentro dos coletivos e acredita que o acordo vai afetar diretamente sua renda mensal. “Quem acaba pagando somos nós. A polícia tem que pensar melhor antes de barrar nossa entrada nos ônibus, porque assim parece que todo vendedor é ladrão”.
HISTÓRICO
Mais de 100 ônibus são assaltados por mês em Salvador — cerca de 3 ao dia. Segundo os boletins diários divulgados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) entre janeiro deste ano e agosto, 684 assaltos foram registrados pela polícia. (Aratu Online)
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