por Ailma Teixeira / Júlia Vigné
Foto: Reprodução / Píxabay
Definida como ilegal pelo Ministério da Justiça, a cobrança diferenciada de valores de ingresso entre homens e mulheres passará a ser proibida a partir da próxima quinta-feira (3) (entenda aqui). Diante desse quadro, o Bahia Notícias entrou em contato com casas noturnas de Salvador para saber como elas receberam a determinação e como irão se adequar à medida. Se, de um lado, boates como Zen, 30 Segundos e Skull discordam da decisão, outras como Las Vegas e Pink Elephant até comemoram a notícia. "Eu acho que são direitos iguais pra todo mundo. Eu tenho também a [boate] Zero ali no Rio Vermelho e o QG [no Costa Azul] e nelas eu cobro o preço único pelo ingresso há mais de seis meses", disse Rodrigo Palhares, sócio da Pink Elephant. Até fevereiro a boate funcionava no bairro do Rio Vermelho, no lado oposto à Zero, e o valor do ingresso masculino era R$ 20 mais caro do que o feminino. Agora, prestes a estrear em nova residência, Palhares garante que a boate vai contar com preço único. No final de agosto, a Pink será reaberta na Barra, onde antes funcionava o Tarantino Art Bar, que também cobrava valor diferenciado entre os gêneros. Outras boates como a Vegas Music Bar, no Costa Azul, chegaram a se antecipar na medida. "Essa semana, a gente já vai colocar o preço único", ressalta o sócio da casa noturna, acrescentando que a proibição da cobrança diferenciada foi um "ponto positivo". “É justo, né?”, disse. A casa noturna deve fixar o valor entre R$ 30 e R$ 40, dependendo do dia e da atração. Após ação popular, o Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional do Consumidor, avaliou a discriminação de valores como uma "afronta aos princípios da dignidade da pessoa humana" e concluiu que a prática era utilizada como "estratégia de marketing", que colocava a mulher em posição inferior. O argumento é refutado pela proprietária da Skull, Mirela Ferreira. Para ela, não se trata de "machismo". "O custo da casa é baseado nos valores, e quem vai terminar se prejudicando são as mulheres, porque não vamos ter como cobrar R$ 20 para elas e R$ 30 para os homens, então algum lado vai sair prejudicado", opina Mirela. A empresária defende que há uma questão estatística relacionando o consumo dos públicos e ressalta que geralmente os homens consomem mais do que as mulheres. De acordo com Mirela, a Skull não recebeu notificação por parte do governo, mas assim que a decisão entrar em vigor, a boate irá cumprir. A opinião é compartilhada pela Zen, que pretende fazer uma média de preços para se adequar melhor à mudança. "Eu acho negativa. A gente parte do princípio que é marketing promocional. As mulheres, para saírem na noite, têm gasto a mais – salão, cabelo, comprar roupa. Por isso tem valor diferenciado", pontua Adriana Doval, gerente de marketing da casa. Também contrário à proibição, o 30 Segundos Bar decidiu agir diferente. A fim de evitar complicações, a boate se antecipou e adotou um preço único desde segunda-feira (24). "Apesar de que no nosso caso, por trabalharmos com open bar, não seria a forma mais adequada de fazer a cobrança", argumenta Aníbal, sócio da boate. Como Mirela, ele também acredita que o consumo médio dos homens é "muito maior" se comparado ao das mulheres. Às quintas-feiras, por exemplo, a boate funciona em esquema open bar a noite toda e, até essa mudança, os homens pagavam quase o dobro para ter acesso ao local. O preço na 30 segundos quando a boate oferece open bar passou a ser R$ 94,90 pista e R$ 119,90 camarote. O valor recebe descontos quando o consumidor coloca nome na lista ou se filia ao programa de fidelidade da casa. O festival Villamix, que irá ocorrer no dia seis de agosto, três dias após a implantação da medida, cobra valores diferenciados entre homens e mulheres no Backstage Brahma Golden Mix. O valor feminino é de R$ 340 e o masculino é de R$ 370. Procurados pelo Bahia Notícias, os organizadores da festa disseram que não irão se pronunciar quanto a essa questão. Com a vigência da recomendação do Ministério da Justiça, as boates, festas e bares deverão ser inspecionadas para verificar se a norma está sendo realizada na prática. Caso o consumidor se depare com a cobrança ilegal, ele poderá exigir o menor valor cobrado pela casa. Outra saída é entrar em contato com o Procon e até mesmo com a Justiça, com documentos que atestem a cobrança distinta. Os estabelecimentos que descumprirem a norma estarão sujeitos a multa. BN
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