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segunda-feira, 13 de março de 2017

Uma a cada quatro brasileiras sofre de depressão pós-parto

Gabriela Albach l A TARDE SP
Entre as características da mulher brasileira que sofre com a doença está a falta de planejamento da gravidez*Márcio Fernandes l Estadão Conteúdo

Acredita-se que a maternidade é uma das experiências de maior empolgação que uma mulher pode ter na vida, mas a realidade é bastante diferente do imaginário social.

De acordo com uma pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mais de uma em cada quatro brasileiras apresenta sintomas de depressão pós-parto. O estudo, que entrevistou cerca de 23 mil mulheres entre 6 e 18 meses após o parto, foi publicado no Journal of Affective Disorders e analisou fatores por trás dessa estatística.

O trabalho foi liderado pela pesquisadora Mariza Theme, e apontou que, no Brasil, o índice de mulheres com sintomas é de 26,3%, número maior do que o registrado nos Estados Unidos, Austrália e em países da Europa.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a média de casos de depressão pós-parto em países de baixa renda é de 19,8%. Tamires Dalcol, operadora de telemarketing, conta que começou a ver a própria morte: “Vou morrer, mas pelo menos meus pais estão aí para cuidar e amar meu filho”.

Uma pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) concluiu que a depressão pós-parto atinge mulheres de forma duradoura e as desarranja. O enfermeiro Hudson Pires de Oliveira Santos Júnior, defendeu a tese.

“Desanimei pra vida. Choro demais, sofro por tudo, dói o peito, me sinto fraca, pressão sempre tá alta por causa das crises. Agora estou desempregada por não conseguir creche e não ter quem fique com ele, isso me faz ficar em casa e sinto que a crise está voltando”, conclui Tamires.

Segundo Hudson, o Ministério da Saúde não estabelece estratégias para tratar as mulheres afetadas, portanto, os profissionais da saúde da Estratégia Saúde da Família não estão preparados para diagnosticar e tratar as mães que sofrem da doença.

Procurado, o Ministério da Saúde, não se pronunciou sobre o assunto.

A estudante universitária, Michelli Cristini de Oliveira, conta que hoje não consegue se imaginar sem a filha, mas que, na época, a situação foi diferente: “Vi como se minha vida estivesse acabando. Tive que trancar a faculdade e fui voltar quando ela estava com 5 anos. Quase morri no parto e ainda tive que ouvir da equipe médica que ela nasceu sem respirar porque fui mole. Acho que todos esses fatores ajudaram para eu entrar em depressão”, disse.

É importante diferenciar tristeza de depressão pós-parto, como salienta a médica Cássia Rosário: “A tristeza é uma estado afetivo caracterizado pela falta de alegria, ou seja, ficamos tristes por não conseguirmos algo que queríamos, mas passa. Na depressão pós-parto, apesar de também ter a tristeza, os sintomas presentes são irritabilidade leve ou severa, ansiedade, oscilação de humor, fadiga e sentimento de abandono e vontade de prejudicar seus bebês”, explica.

A depressão pós-parto acontece, principalmente, devido às alterações hormonais decorrentes do término da gravidez, mas o cenário em que essa mãe está inserida também influencia o quadro, tais como as condições financeiras, a presença ou ausência do pai.

O estudo da Fiocruz detalhou um perfil que pode ajudar a explicar quem são as mulheres mais propensas a desenvolver o problema. A maioria das mulheres que sofre com depressão pós-parto no Brasil é da cor parda, tem em média 25 anos, baixa condição econômica, hábitos não saudáveis, já tinham outros filhos e não planejaram a gravidez.

Sintomas
A depressão pós-parto pode se manifestar de diferentes formas. Alguns sintomas são sentidos pela maioria das mães após o parto, mas na depressão pós-parto eles são mais graves.

Sentir-se acabada e triste a maior parte do tempo, falta de concentração, ter pensamentos suicidas, sentir-se inútil e incapaz de desejar coisas e exaustão permanente (mesmo quando consegue descansar um pouco), são alguns dos sintomas que podem indicar a doença.

Para a psicóloga Brenda Rocco “é normal ter dias ruins. Mas, se a mulher está tendo esses sentimentos na maioria dos dias, e não parece estar melhorando, provavelmente está com depressão pós parto”, alerta.

Baby Blues
Segundo cartilha distribuída pelo Instituto de Psicologia da USP, a tristeza materna, conhecida também por baby blues, é a forma mais comum e leve de depressão. Alguns dias após o parto, você pode se sentir exultante em alguns momentos e logo em seguida muito sentimental e chateada, chorando sem nenhum motivo em particular.

Essa tristeza pode ser causada, em parte, pelas mudanças repentinas nos níveis de hormônio feminino após o parto; e, em parte, pelo próprio choque emocional do parto, que marca o início da percepção concreta da responsabilidade de ter que cuidar de um pequenino ser e de todas as mudanças.

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