Vai acabar aquela velha rotina de passar a noite em jejum, madrugar no laboratório de análise clínica e esperar uma hora para ser atendido enquanto tenta-se esquecer a fome. Um consenso entre quatro entidades médicas brasileiras que será divulgado na segunda-feira 5 recomendará o fim do jejum antes da realização de exames para medir os níveis de colesterol e de triglicérides. “É muito mais prático e facilitará a vida para os pacientes”, afirma a cardiologista Tania Martinez, conselheira para Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia, uma das instituições participantes. As outras são as sociedades de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial e Análises Clínicas, a de Endocrinologia e Metabologia e a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica.
Tendência mundial: A nova orientação segue a conduta adotada há algum tempo por entidades europeias e americanas depois de diversos estudos demonstrarem que ficar ou não sem comer não implicava diferenças significativas nos resultados.Um deles, feito no Canadá com mais de duzentas mil pessoas, revelou variações de menos de 2% nas taxas de HDL (o bom colesterol) independentemente de jejum e de menos de 10% nas concentrações de HDL (colesterol ruim). E não importa se o paciente ingeriu frutas e legumes ou batata frita+hambúrguer. Simplesmente não faz diferença. Jejuar horas antes de se submeter aos exames não é mais obrigatório na Dinamarca e na Inglaterra, por exemplo, e recentemente tornou-se consenso oficial da Sociedade Europeia de Aterosclerose. “Nossa experiência mostra que é muito mais simples para pacientes, médicos e laboratórios”, disse à ISTOÉ o médico dinamarquês Borge Nodestgaard, da Universidade de Copenhague. O especialista é um dos principais defensores da medida e a considera aplicável a qualquer caso. Há uma parcela de médicos, no entanto, que aponta exceção quando o paciente apresenta concentração muito elevada de triglicérides (outro tipo de gordura usualmente medida) sem jejum. No Brasil, um novo teste será indicado quando o nível desta gordura superar os 440 mg/dL. Desta vez, cumprindo jejum. As entidades nacionais farão a partir de agora um esforço para divulgar as orientações nas publicações especializadas dirigidas aos médicos. “Eles vão precisar receber muita informação, e repetidamente”, explica Tania Martinez. Na Europa, inicialmente houve certa resistência por parte dos profissionais de saúde e desconhecimento entre os pacientes, mas ambos os obstáculos foram superados. Ficar sem comer – oito horas antes – continua valendo para a medição da taxa de açúcar. O resultado do exame é critério para diagnóstico de diabetes. Mas o teste que deve ser feito a cada três meses para acompanhamento da doença, o da hemoglobina glicada, dispensa jejum anterior.
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