por Rebeca Menezes**Foto: Pedro França / Agência Senado
A defesa da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) informou, pouco após a decisão do Senado desta quarta-feira (31), que ingressaria com duas ações no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar reverter o impeachment (clique aqui e veja). Mesmo assim, para o historiador político Carlos Zacarias, o Partido dos Trabalhadores “vai se acomodar” por saber que é “absolutamente improvável” que consigam reverter o processo. “O PT sabe que não vai reverter isso, mas será como uma última cartada. O que devia ter feito, não fez. Agora eles vão tentar livrar o pescoço para mobilizar para 2018”, avaliou. Para o historiador, contudo, isso só será possível caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se mantenha como opção na próxima disputa eleitoral. “Lula ainda não foi condenado. Alguns setores farão pressão para ele ser condenado, porque se ele vier, vem com condições de ganhar. Não falo ganhar com certeza, mas com condições de igualdade para ganhar”, sugeriu. Zacarias explicou que o PT foi parte fundamental de um processo que levou ao impeachment. O analista político acredita que a crise do país começou a mostrar sinais em 2013, quando houve as manifestações que tomaram todos os estados. Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (Dieese) apontam que, naquele ano, houve 2050 greves no Brasil – maior número desde o início da série histórica, que começou em 1978. O segundo ano com mais paralisações foi 1989, com 1962 casos. “Ali o Brasil não enfrentava a crise. A taxa de desemprego estava abaixo de 5%, não havia Lava Jato, a inflação estava controlada. Se você liga uma coisa à outra, vai ver que foram as expectativas frustradas que convergiram para a necessidade de luta. Não foram expectativas por pequenas melhorias, mas por grandes melhorias. Mas depois de dez anos do PT no governo, veio a Copa das Confederações, com estádios de primeiro mundo e escolas e hospitais de país subdesenvolvido. A paciência com o lulismo acabou ali”, definiu. O desapontamento também teria feito com que a legenda não tivesse o apoio que esperava dos movimentos trabalhistas durante o processo de impeachment, mesmo com o controle de instituições como CUT e MST. Mesmo assim, o historiador acredita que há chances do povo voltar às ruas: apoiado por setores conservadores e sem a obrigação que o PT tinha de repactuar com movimentos sociais, o presidente agora efetivo Michel Temer (PMDB) deve apresentar uma série de medidas impopulares, como a reforma da Previdência Social e a flexibilização de leis trabalhistas, que seriam chamadas pelo eufemismo “modernização das relações trabalhistas”. “Com uma série de pontos que estavam na expectativa dos que o apoiaram, junto ao pato da Fiesp, o que se pode esperar é a implementação de interesses dos setores produtivos, empresariado e do capital financeiro. Mas da outra parte é possível que haja grande resistência. Algumas pessoas já foram às ruas. Na medida em que Temer implemente o que prometeu, é possível que a gente assista a mobilizações mais reativas, que as pessoas voltem a ocupar as ruas. Não mais para defender o governo, mas para lutar contra essas propostas impopulares”, alertou. Mesmo com os riscos e com a alta impopularidade de seu recente governo, contudo, Temer deve levar a cabo as promessas que fez ao longo do governo interino. “Ele veio pra isso. Com esse objetivo que os grupos depuseram o PT, mesmo com todos os riscos, inclusive o de convulsionar o país, o que não aconteceu. Eles precisavam de um governo que garantisse para eles as reformas estruturais que reestabeleçam o controle pleno do capital sobre o trabalho. [...] Temer não espera nenhuma simpatia dos trabalhadores organizados. É um risco [fazer as reformas], mas um risco menor diante daqueles que o apoiaram. O país voltaria a ser ingovernável. Então, para não perder o apoio no Congresso, ele vai ter que entregar as reformas, com toda antipatia. As pessoas já não confiam nele, é uma figura sem carisma. Ele vai com todos esses riscos tentar fazer o que lhe vai garantir estabilidade e governabilidade até 2018. Depois disso não sabemos o que vai acontecer”, resume.
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