Fabiana Cambricoli*Em São Paulo*Clayton de Souza/Estadão Conteúdo
Jaqueline Jessica Silva de Oliveira com seus filhos gêmeos Lucas e Laura. A menina nasceu com microcefalia e o menino não
"Ninguém me disse o porquê. Só falaram que era caso para estudo." Foi assim, sem receber muitas explicações, que a dona de casa Jaqueline Jéssica de Oliveira, de 24 anos, saiu da maternidade do Hospital Guilherme Álvaro, em Santos, no dia 27 de novembro. Nos braços, ela levava Laura e Lucas, seus filhos gêmeos nascidos dez dias antes. Oito centímetros indicavam uma diferença marcante entre as crianças. O menino veio ao mundo saudável, com 34 centímetros de perímetro cefálico. Já a cabeça da menina tinha apenas 26 centímetros, o que não deixou dúvidas sobre o diagnóstico: Laura nasceu com microcefalia.
A hipótese da má-formação em um dos bebês já havia sido levantada em setembro, no sétimo mês de gravidez, durante o pré-natal, mas Jaqueline e o marido acreditavam que o quadro poderia mudar até o nascimento. "Fizeram tudo quanto foi exame para ver se eu tinha alguma infecção que poderia ter causado a microcefalia e deu tudo negativo. Naquela época ainda não falavam muito da zika", conta ela. "A gente achava que ela podia se desenvolver ainda na barriga e nascer normal. Foi um choque quando a gente viu o menino normal e a menina com a cabeça menor", diz.
A surpresa não foi uma reação apenas dos familiares. Jaqueline ouviu dos médicos que, para ter respostas, o caso teria de ser estudado. E ficava aflita cada vez que entrava em um consultório e via na face do profissional mais interrogações do que esclarecimentos. "Eu nunca nem tinha ouvido falar de microcefalia. Perguntei para os médicos o que significava, se minha filha teria alguma sequela e me disseram que talvez ela teria um desenvolvimento mais lento do que o normal. Quis saber mais detalhes e a médica me falou: 'pergunte a Deus, porque ele é poderoso'", conta.
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