Nestor de Souza, 56 anos, perdeu os movimentos das mãos após desenvolver uma lesão que o impede de continuar o trabalho que exerce em uma lavanderia.
Ele tenta receber o auxílio-doença desde agosto do ano passado do INSS mas por causa da greve dos médicos peritos do órgão o segurado foi às agências mais de cinco vezes, com horário marcado, e ainda não conseguiu o laudo.
O drama de Nestor é vivido por 1,3 milhão de pessoas, segundo o último levantamento do INSS. Enquanto isso, os peritos completam quatro meses de braços cruzados, à espera de um acordo com o governo que satisfaça às exigências da categoria.
“É muito indigno ver minha esposa trabalhando sozinha e eu ter que fazer bicos, depois de ter um emprego e não poder receber o meu auxílio”, desabafou Nestor, que só não passa por necessidades básicas porque tem o salário da esposa e, mesmo com as mãos lesadas, faz trabalhos autônomos.
A falta de atendimento também mudou a vida de Bianca Silveira Dias, 30 anos. A secretária precisou se afastar do trabalho após ser diagnosticada com hérnia de disco, mas não conseguiu o laudo do INSS.
Como a moradora de São Gonçalo não comprovou a doença, a empresa que ela trabalhava a demitiu.
“Eu sinto desespero pelo lado financeiro, indignação pelo lado moral e muita tristeza por ver uma administração pública que não funciona no país. Transformaram uma Seguridade Social em uma empresa com fins lucrativos”, criticou.
A perícia do INSS está sendo feita por 30% do efetivo, que é o percentual obrigatório por lei. Mas o presidente da Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social (ANMP), Francisco Eduardo Cardoso, lembra que 95% dos 4.378 servidores da categoria já aderiram à greve, e se revezam para manter o atendimento mínimo.
“Enquanto não houver um acordo satisfatório por parte do governo, continuaremos em greve mas estamos buscando a negociação”, disse Cardoso.
Pelas contas da ANMP, foram quatro reuniões antes do início da greve e três durante esses quatro meses de paralisação.
A última reunião entre governo e grevistas, mediada pelo Ministério do Planejamento, foi no dia 11 de dezembro.
Mas não houve acordo, já que a associação não aceitou a proposta de reajuste para o funcionalismo federal, de 10,80% parcelado em duas vezes, neste ano e ano que vem.
Os médicos peritos pedem 27% de aumento em dois anos, redução da carga semanal de 40 para 30 horas, reestruturação da carreira e fim da terceirização. Hoje a categoria trabalha 40 horas, com salários entre R$ 11 mil a R$ 16 mil, segundo o INSS.
Conseguir a perícia do INSS, mesmo com horário marcado, tem sido um jogo de sorte, relatam os segurados. O serviço deve ser agendado pela Central 135, entretanto, parte dos agendados dá com a cara na porta por não ter médicos suficientes nas agências.
José Bezerra da Silva, 55 anos, veio da Paraíba para tentar ser atendido aqui. O homem, que tem um aneurisma cerebral, está na casa da irmã, já que foi afastado do trabalho e não está conseguindo se manter financeiramente.
Mesmo com o nome na lista de atendimento na agência, o perito não o recebeu ontem. “É muita insatisfação por trabalhar a vida inteira e não conseguir um atendimento decente”, disse. Fonte: O Dia
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