Jornal do Brasil - Luís Guilherme Julião*
A taxa Selic foi elevada em 0,5 ponto percentual, atingindo os 14,25%, maior patamar desde 2006. A decisão foi divulgada na noite desta quarta-feira (29), após término da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). Este é o sétimo aumento consecutivo que reflete, segundo economista consultado pelo Jornal do Brasil, forte alta de preços administrados, como de gasolina e energia elétrica neste ano, além das expectativas a respeito do cumprimento das metas fiscias pelo governo.
A taxa é a maior desde 18 de outubro de 2006, quando registrava 14,75%. Para Marcelo Curado, coordenador do programa de pós-graduação em desenvolvimento econômico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a alta é consequência de uma necessidade do BC em recuperar sua credibilidade no mercado e mostrar compromisso com o centro da meta da inflação. Ele destaca que não é algo que irá ocorrer em curto prazo, mas faz parte de uma política de ajustes gradualista.
A meta da inflação para 2015, fixada há dois anos pela instituição, é de 4,5%. Na última segunda-feira (27), no entanto, a projeção feita pelo mercado atingiu os 9,23%, registrando a 15ª alta seguida nas previsões semanais e estourando o teto da meta, que é de 6,5%, em 2,73 pontos percentuais. Como tentativa de conter maiores aumentos, o BC tem elevado seguidamente a Selic desde outubro do ano passado.
Curado diz que as elevações começam a surtir efeito pelo menos seis meses depois. A respeito da possibilidade de efetuar uma forte elevação dos juros, ao invés de aumentar em 0,25 ou 0,5 ponto percentual a cada reunião, o economista diz que uma "política de choque" poderia ter um impacto muito forte principalmente nos custos fiscais, que fariam o governo gastar mais para pagar os juros de sua dívida.
O aumento dos preços administrados neste ano influenciou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador da inflação. Ao todo, 23 bens e serviços têm peso da 23,31% no índice, segundo dados do BC de março de 2015. Esses preços, que são estabelecidos pelo governo, sofreram fortes aumentos no anos. A energia elétrica, por exemplo, segundo dados do IPCA-15, divulgados no último dia 22, já acumula alta de 44,75%.
Até quando?
Na visão do especialista, este foi o penúltimo aumento da Selic. Na próxima reunião, que deve ocorrer nos dias 1 e 2 de setembro, ele acredita que ainda mais uma alta deve ocorrer, de 0,25 ponto percentual. "Vai depender também de uma estabilização tanto na taxa de câmbio quanto na crise política", completa.
A inflação acumulada, uma trajetória lenta para baixá-la e o regime de metas que perdeu a credibilidade são os principais fatores para a política que a instituição vem mantendo, segundo o especialista. "Agora, o remédio do aumento dos juros vai ter que ser mais forte para trazer a inflação para baixo. O regime de metas adotado pelo governo depende das expectativas dos agentes, e o BC tem que fazer um esforço muito maior do que no passado para cumpri-las." *Do programa de estágio do JB
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