Visto na Público*Por Alexandre Martins
Empresa sueca já tinha retirado um artigo sobre duas mulheres e agora decidiu pôr fim à edição russa da revista.
A gigante de vendas de mobiliário IKEA vai deixar de publicar na Rússia a sua revista com conselhos sobre decoração, para evitar ser condenada por veicular "valores sexuais não-tradicionais".
A decisão está ligada a uma lei aprovada na Rússia há quase dois anos, que proíbe a "exposição de menores de idade" a declarações ou imagens sobre homossexualidade.
Num curto comunicado publicado na edição russa da revista Live, a empresa sueca começa por sublinhar que defende a "igualdade de direitos e de oportunidades para todos", mas conclui que não está disposta nem a ser multada, nem a incluir um aviso de que a revista é imprópria para menores de 18 anos de idade.
"A IKEA Family Live revela diferentes aspectos das vidas das pessoas nas suas casas, independentemente da idade, género, orientação sexual, nacionalidade ou religião. A revista reflecte os valores da IKEA, que incluem a igualdade de direitos e de oportunidades para todos. Pugnamos por falar sobre pessoas com estilos de vida, valores, tradições, hábitos e interesses distintos", lê-se no comunicado.
De acordo com a agência AFP, o gabinete de imprensa da IKEA na Rússia disse que não recebeu quaisquer "avisos oficiais", mas também não esclareceu se se preparava para publicar algum tipo de conteúdo que pudesse violar a lei aprovada no Verão de 2013.
No final desse ano, a empresa sueca foi criticada por ter retirado da edição russa da revista um artigo sobre Clara e Kirsty, duas mulheres que partilhavam um pequeno espaço na casa da mãe de Clara com o filho de ambas, Isaac. Esse artigo (que saiu nos outros 24 países em que a revista é publicada, entre os quais Portugal) foi substituído por outro que não expunha a empresa às sanções previstas na lei russa.
A IKEA é uma das empresas de mobiliário mais procuradas pelos consumidores russos – em 2013, a gigante sueca aumentou as vendas em 3,1% em todo o mundo, o que se traduziu numa receita de quase 30 mil milhões de euros, muito graças ao crescimento na Rússia e na China.
A lei em causa entrou em vigor com os votos favoráveis de 436 deputados, nenhum contra e apenas uma abstenção (a do deputado Ilia Ponomarev, de esquerda, opositor de Vladimir Putin e o único que votou contra a anexação da Crimeia pela Rússia). Proíbe a publicação ou transmissão de mensagens sobre "formas não-tradicionais de relações sexuais".
A proibição tem como objectivo impedir que "os menores formem predisposições não-tradicionais, ideias distorcidas sobre a igualdade do valor social entre relações sexuais tradicionais e não-tradicionais, ou que seja veiculada informação sobre relações sexuais não-tradicionais que possam suscitar interesse sobre esse tipo de relações".
A lei prevê a aplicação de multas entre 5000 rublos (77 euros) para cidadãos russos e um milhão de rublos (15.000 euros) para empresas. Os estrangeiros acusados de "propaganda de valores não-tradicionais" podem ser condenados a 15 dias de prisão ou ao pagamento de 5000 rublos, sendo também deportados.
No comunicado publicado no site da edição russa, a IKEA diz que a revista "é dirigida a uma audiência familiar" e que "não deve ter um limite de idade".
"Apesar disso, sabemos que vários artigos publicados na nossa revista podem ser considerados como propaganda (…) Como empresa, cumprimos as leis dos países em que fazemos negócio, e decidimos pôr fim à publicação da revista na Rússia para evitar violações da lei", conclui a IKEA. Veja direto no Público
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