Miriam Leitão - O Globo
A velocidade com a qual o setor elétrico se desequilibrou pode ser medida no balanço da Petrobras. Nos primeiros seis meses do ano, as dívidas vencidas das usinas térmicas com a petroleira dispararam 85,3%. A Petrobras, que fornece combustível para as geradoras, tinha R$ 3,39 bilhões em recebíveis atrasados ao fim de 2013. A conta terminou junho desse ano em R$ 6,29 bilhões.
O calote evoluiu mais rápido do que o montante de recebíveis. No fim de 2013, a Petrobras era credora de R$ 5 bilhões (68% em atraso). Terminado o primeiro semestre, o compromisso de pagamento das geradoras estava em R$ 7,25 bilhões (87% em atraso).
As usinas devedoras são controladas diretas ou indiretas da Eletrobrás, localizadas na região Norte do país. É possível que a dívida suba mais devagar no atual trimestre. A Eletrobrás negocia um empréstimo de R$ 6,5 bilhões com bancos públicos para amenizar seu estrangulamento financeiro.
Controlada pelo governo, em 2012 a Eletrobrás aprovou em assembleia receber menos pela renovação de suas concessões, uma das consequências da MP 579, que desequilibrou o setor elétrico. A votação reacendeu o debate sobre a obrigação do controlador em zelar pelos interesses da companhia. Nos próximos meses, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) julgará o comportamento do governo. A autarquia recentemente recusou um acordo sugerido pelo ministro da Fazenda para arquivar o processo. Tosca, a proposta era promover um evento educativo com Guido Mantega em troca de interromper a apuração da CVM, sem garantir que a prática não seria repetida.
Enquanto a Eletrobrás não encontra uma solução sólida para seu ocaso financeiro, a Petrobras preferiu se proteger. "A partir de 1º de agosto o fornecimento de combustíveis líquidos vem sendo efetuado somente após o recebimento de recursos das controladas da Eletrobras, de modo a não aumentar a exposição da Companhia", explicou a petroleira na divulgação de seu resultado trimestral.
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