A modelo transexual Carol Marra vai lançar uma linha de biquínis assinada por ela, em parceria com a marca Biquíni Brasil. "Os donos da grife viram uma entrevista minha e ficaram sensibilizados com minha historia e luta. A nós, transex, faltam oportunidades para desenvolver nossos talentos e ter profissão digna. A maioria é empurrada covardemente para prostituição", afirma Carol, que fez as fotos da campanha em Marbella, na Espanha. A modelo não tem medo das mulheres não comprarem um produto vendido por uma transexual. "Vejo tantas personalidades com jeito vulgar e que não dizem a que vieram lançarem produtos e terem retorno. Eu tenho cuidado com minha imagem e postura. Seria hipócrita uma mulher fazer associação do biquíni com a minha condição sexual", diz ela, que por não ter feito ainda a operação de redesignação sexual, usou de truques que aprendeu que algumas amigas para esconder o dito cujo. "O que não é para ter, a gente esconde. Estou conversando com uma equipe médica sobre a operação, mas não quero transformar esse momento especial da minha vida em um circo". A modelo conversou com a coluna:
Como surgiu o convite para lançar uma linha de biquínis?
Os donos da grife viram uma entrevista minha e ficaram sensibilizados com minha historia e luta. A nós, transex, faltam oportunidades para desenvolver nossos talentos e ter profissão digna. A maioria é empurrada covardemente para prostituição. Tive sorte de trilhar outro caminho mas é difícil e, mesmo para mim, são poucas as oportunidades. Primeiro, os donos da Biquíni Brasil me convidaram para ser a modelo da coleção. Foi um sucesso. Depois, veio a ideia de lançar uma linha exclusiva assinada por mim, com minha cara. Desenhei os modelos, ajudei na escolha dos tecidos, das estampas e com tudo pronto fui para Espanha fazer as fotos. Está tudo lindo e muito sofisticado.
Tem medo das mulheres não se sentirem representadas e não comprarem as peças?
Eu, como transexual, uso biquíni. Não uso sunga. Além disso são modelos sofisticados, que qualquer mulher de bom gosto pode usar. Não é dirigido às transexuais, isso não existe. Uma transex usa tudo que uma mulher usa. E hoje, tem tanta mulher mais exagerada, que de tão enfeitadas até elas brincam dizendo que se vestem como travestis. Vejo tantas personalidades com jeito vulgar e que não dizem a que vieram lançarem produtos e terem retorno. Eu tenho cuidado com minha imagem e postura. Seria hipócrita uma mulher fazer associação do biquíni com a minha condição sexual. Não tenho essa preocupação. Quero ver as mulheres lindas e bem vestidas, me inspiro nelas.
E como fez para esconder o dito cujo nas fotos de biquíni?
Como ainda não fiz a cirurgia de redesignação sexual - não é mudança de sexo, como muitas pessoas dizem, sexo não se muda - tenho alguns truques que aprendi com minhas colegas. Brinco sempre dizendo: se não era pra ter, a gente esconde (risos).
Falando nisso, como está o processo da sua redesignação sexual?
Estou conversando com uma equipe médica sobre a operação, mas não quero falar em datas porque depois sou cobrada pela imprensa. Não vou tornar esse momento tão especial da minha vida em um circo.
Pensa em ter filhos?
Adoro crianças, elas trazem alegria para um lar.Tenho sonhos simples: uma família, de dois a três filhos. Antes da cirurgia quero congelar sêmen para num futuro ter meus filhos biológicos. A medicina esta muito avançada. Mas, se não der certo dessa forma, a adoção é a alternativa mais certa, mesmo com todos empecilhos que criam. Não vejo problemas em adotar.
Transexuais ainda sofrem muito com preconceitos?
Infelizmente existe e números não são divulgados. Talvez nem entre nas estatísticas, mas diversas travestis, transexuais e homossexuais são agredidos e até assassinados e nada é feito, nem noticiado. Parece algo como uma espécie de limpeza urbana da cidade. É preciso equiparar esses crimes ao crime de racismo. Que Brasil é esse que existem leis que protegem as crianças, mulheres, negros e índios, mas a comunidade LGBT é desamparada? Não somos gente? Na hora de votar e pagar impostos somos cidadãos, mas depois somos esquecidos e marginalizados. Esta na hora do estado e da sociedade ter um olhar de carinho e respeito. Mais do que amar o igual, é preciso amar o 'diferente'. Aí sim teremos um mundo melhor para todos nós. http://epoca.globo.com
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