Empresas argentinas de longa relação comercial com o Brasil estão envolvidas numa série de problemas no país. Entre eles, calotes nos pagamentos de produtos importados e em prestadores de serviços. Para especialistas, o momento é desfavorável a fazer negócios com o país vizinho, mas admitem que abrir mão de operações bilaterais seria pior a longo prazo, dada a relevância dos dois mercados.
Companhias ou acionistas argentinos em empreendimentos brasileiros têm atrasado o depósito de recursos para honrar compromissos. No ramo automotivo, a inadimplência de importadores chega a US$ 2,5 bilhões para pelo menos 10 fabricantes de carros e peças. Os devedores alegam que não recebem dólares do Banco Central (BC) da Argentina para fazer os pagamentos. Procurada, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) não se manifestou até o fechamento desta edição.
Em outro caso, a empresa Austral estaria em atraso com parcelas do financiamento de US$ 600 milhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), segundo fontes de mercado. O valor contratado se destinou à compra de 20 jatos fabricados pela Embraer. A instituição financeira nega o suposto calote. Outro imbróglio financeiro é o da Inframérica, que administra os aeroportos de Brasília e de São Gonçalo do Amarante (RN). Empreiteiras contratadas para obras nos dois terminais cobram R$ 134,4 milhões. A companhia, que tem entre os principais acionistas a argentina Corporación América, descarta qualquer relação entre o seu sócio e o problema. A concessionária admite as pendências e afirma que o descompasso resultante de ajustes no cronograma de projetos está sendo solucionado.
Moeda
O presidente da Câmara de Comércio Brasil-Argentina, Alberto Alzueta, reconhece que a crise econômica do parceiro do Mercosul e as suas baixas reservas cambiais afetam as transações entre empresas dos dois lados. Para ele, a solução para esse impasse seria o uso de moedas locais no comércio bilateral. “Cada país poderia aceitar reais ou pesos nos acordos comerciais”, resume.
Alzueta ainda sugere que sejam extintas a Declaração Jurada Antecipada de Importação (Djai), pelo lado argentino, e a cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), pelo brasileiro. Na sua opinião, ao se usar moedas locais deixariam de existir operações cambiais. “A situação é complexa, mas sabemos que os países têm corrente de comércio forte e desejam manter boas relações”, observa.
Dados do BC do Brasil indicam que as empresas brasileiras receberam de janeiro a agosto R$ 1,4 bilhão em operações com moedas locais feitas por companhias argentinas. A autoridade monetária atua só como intermediária, sem assumir risco de crédito recíproco, e o exportador pode utilizar esse sistema desde que a venda tenha sido contratada previamente em reais.
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