Iniciada em 2002, a história de Caio Jr. como treinador acumula trabalhos marcantes como a classificação do Paraná para a sua primeira Libertadores, em 2006. Em contraponto, ele convive com a escassez de títulos com grandes clubes brasileiros como Palmeiras, Flamengo e Botafogo. Em busca de uma nova realidade, o técnico "adotou" o Catar e foi lá que garantiu seu reconhecimento: prêmio de melhor treinador do país, em 2010, e títulos, vários deles - foram quatro nas duas primeiras passagens. O treinador soma três pelo Al-Gharafa, do Catar, e um pelo Al-Jazira. Atualmente no comando do Al-Shabab, dos Emirados Árabes, Caio mantém a escrita de bons resultados. Começou com quatro vitórias em cinco partidas oficiais. Pela trajetória, ele admite que tem "algo especial" com o mundo árabe.
- Eu me identifiquei com o mundo árabe, com o estilo de trabalho aqui, tive uma adaptação muito boa. Tive a sorte de ter sido contratado por um grande clube na minha primeira passagem, o Al-Gharafa, e fiz um grande trabalho, foram três títulos logo no meu primeiro ano aqui. Eu tenho algo diferente pelo mundo árabe. Tenho alguma coisa especial que me chama, me traz para cá, que faz com que eu consiga bons resultados. Iniciei bem nos Emirados, aqui o time não é considerado um dos favoritos, tem outros na disputa, mas o começo chama a atenção.
O Al-Shabab ocupa a terceira posição na liga nacional com nove pontos conquistados e um jogo a menos que os líderes. Caio Jr. também estreou com vitória na Copa dos Emirados, pelo placar de 3 a 0, contra o Al-Wasl, do treinador Jorginho, ex-Flamengo, que não resistiu ao resultado e teve o contrato encerrado. Os números podem assustar aos que não esperavam destaque da equipe na temporada, mas não surpreende o treinador, que enaltece o trabalho da comissão técnica composta por Almir Domingues, Luis Felipe, Manoel Santos, Joel Cornelli e Christopher Sales, e aponta o calendário como um dos grandes responsáveis pela boa fase.
- Poucas vezes na minha carreira tive dois meses de pré-temporada, isso faz muita diferença. Cheguei sem conhecer os jogadores, tinha uma noção apenas de como era o grupo. Foi tempo suficiente para conhecer as características técnicas, táticas e físicas dos atletas, ficou muito claro, trabalho em cima disso, defini o meu sistema de jogo. Foi um trabalho excelente, ficamos 21 dias na Holanda e mais alguns por aqui. No Brasil isso não acontece, você já pega o time com pressão pela estreia, com pouco tempo para trabalhar, é terrível.
A vida nos Emirados é boa, mas nem tudo é fácil. São muitas as diferenças entre Dubai e o Brasil, e até mesmo quem já está acostumado sofre em algumas ocasiões. De acordo com Caio Jr., o que mais dificulta são as altas temperaturas, muito maiores até mesmo que as do nordeste brasileiro. O fator climático interfere no treinamento, restringindo as atividades para o turno da noite.
- A principal diferença é o calor. Mesmo com regiões quentes no Brasil, nada se compara aos mais de 40 graus que enfrentamos diariamente por aqui. É difícil treinar durante o dia, até por exigência da própria Federação, pois existe uma desidratação muito grande. O treinamento é feito uma vez por dia, assim como nos grandes clubes da Europa, mas na parte da noite. Conseguimos trabalhar bem, o calendário é mais curto, não são tantos jogos - destacou o treinador.
Os estádios não recebem grande público, muito por conta de uma pequena identificação da população de Dubai, em sua grande parte estrangeira, com os muitos clubes existentes. O calor também seria responsável, segundo Caio Jr., pela acomodação dos torcedores, que preferem assistir aos jogos no conforto de casa, no ar-condicionado.
Telefone sem fio
A grande maioria dos profissionais que trabalham fora do Brasil sofre com o idioma. É assim na Europa, na Ásia, e não seria diferente no mundo árabe. Mas Caio Jr. vive uma rotina ainda mais complicada. Após trabalhos com intérpretes no Japão, no Catar, e na primeira passagem pelos Emirados, o treinador encara o desafio de comandar o Al-Shabab sem um profissional do ramo. Com apenas dois brasileiros no elenco – o atacante Edgar e o meia Luvanor – Caio é cuidadoso para não cometer nenhuma gafe no inglês, e conta com a ajuda do meia chileno Villanueva, que o auxilia nos momentos de aperto.
- No Japão, meu intérprete era japonês. No Catar, era um árabe, e no Al-Jazira, um brasileiro, que falava muito bem inglês. Agora estou conseguindo realizar um sonho. Faço minhas palestras, treinamentos e coletivas em inglês, tomando sempre cuidado para não cair na internet algum vídeo meu cometendo algum deslize (risos). Mas está indo muito bem, eu estou evoluindo bastante. O Villanueva, capitão do time, que já está aqui há cinco anos, fala inglês fluentemente, então, quando eu me aperto, falo com ele em português, ele transmite a mensagem em inglês e um outro jogador fala em árabe (risos). Gosto muito disso, é uma experiência legal.
Desejo, críticas à CBF e volta ao Brasil
Assim como todo treinador, Caio Jr. tem o sonho de comandar uma seleção nacional, de preferência o Brasil, e disputar um mundial. Contudo, a forma com que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) define o seu comandante não é vista com bons olhos. Para Caio, o posto atual de líder da Seleção não deveria ser de Dunga.
- Eu quero ser treinador de uma seleção. Se fosse o Brasil seria fantástico, todo treinador quer chegar lá, não deixo de ter esse sonho, é o desejo de todos e meu objetivo principal. Infelizmente, ao longo de décadas, o critério técnico não é o escolhido pela CBF para escolher o técnico da Seleção. Atualmente, era para o Tite estar no comando. Eu lamento muito, é uma tendência no Brasil que não acho correta. Mas quero treinar uma seleção, disputar uma Copa do Mundo seria uma experiência que eu gostaria muito de ter.
Aos 49 anos de idade e com mais de 12 como treinador, Caio Jr. está focado no trabalho nos Emirados, mas espera um longo caminho na carreira. Com mais bagagem e confiança, o “Senhor das Arábias” projeta uma volta ao Brasil no futuro e acredita que tem condições de marcar seu nome na histórias dos profissionais do país.
- Já vivi muita coisa, estou mais maduro, mais tranquilo, hoje sou mais experiente. É aquele negócio. Se tivesse a cabeça que tenho hoje quando comecei, seria diferente. Em todos os aspectos da vida é assim. Estou muito bem no aspecto profissional, pessoal. Me sinto tão bem que estou confiante que no momento que voltar ao Brasil, em um clube que me dê condições de trabalhar, irei me tornar um dos grandes treinadores do futebol brasileiro, é questão de tempo. Sou novo, vejo grandes nomes que se consagraram tarde. Foto: Reprodução --Fonte: Globoesporte
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