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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Para reduzir salários, basta reajustá-los abaixo da inflação

Pedro do Coutto
O ex-ministro Antonio Delfim Neto publicou excelente artigo na edição de quarta-feira da Folha de São Paulo sobre a atuação dos que chamou de rentistas que, através dos tempos, associam-se e, via governo, extraem rendas imerecidas que geram ineficiência produtiva e têm seus custos diluídos por toda a sociedade. Delfim está nitidamente se referindo ao panorama atual do Brasil, já que usa o plural através dos tempos, como fatalidade histórica, mas recorre ao singular quando focaliza a ação dos rentistas, hoje, ao lado do poder.

O ex-titular da Fazenda dos períodos Costa e Silva e Médici, sem dúvida um intelectual com sensibilidade analítica,l possui experiência própria, já que, no comando da economia, colocou em prática uma política que proporcionou os eternos ganhos imerecidos. Os salários, invariavelmente, eram reajustados abaixo da inflação. E, portanto, fortemente reduzidos no plano concreto. Os trabalhadores particulares, os empregados das empresas estatais, os funcionários públicos, foram as maiores vítimas desse processo que aliás continuou no tempo. Atravessou as eras Ernesto Geisel, João Figueiredo, Fernando Henrique Cardoso. Não vale a pena citar o governo José4 Sarney, uma vez que neste os índices inflacionários, com Mailson da Nóbrega na Fazenda, atingiram escalas estratosféricas.

Tiveram sequência nomeio governo Fernando Collor, o ciclo foi quebrado pelo mandato complementar de Itamar Franco. Mas os caçadores de renda, os rentistas no dicionário delfiniano, praticam (está no artigo da FSP) de forma quase invisível um processo de extração de recursos que deveriam ir para o desenvolvimento do país, mas vão para seus bolsos. “Não se trata, como alguns ingênuos acreditam, de grande batalha ideológica, mas do comezinho interesse material de se apropriarem de recursos que a sociedade desavisada lhes transferiu sem perceber. “ Uma das formas dessa transferência, digo eu, foram os expurgos inflacionários durante o período Médici refeitos nas costas do IBGE. Em 1973, por exemplo, quando o preço do petróleo, em consequência da guerra do Yon Kipur entre Egito e Israel, subiu de 2 dólares para 20 o barril (hoje está em 100 dólares), para efeito de custo de vida o reflexo causado foi debitado à conta que Delfim chamou de acidentalidade.

A transferência de renda e, consequentemente do poder aquisitivo, através da diversa incidência dos índices inflacionários, atingiu em cheio a sociedade brasileira. Funções importantes, como as dos professores, sofreram desvalorização, entre outras dos servidores públicos federais, estaduais e municipais. Basta comparar os níveis de vida entre o ontem e o hoje para se constatar o rebaixamento. E não é só isso. A forte ação dos caçadores de renda penetraram profundamente no universo político partidário e, como resultado mais visível a olho nu, fizeram disparar o processo de favelização nas capitais.

Em 1960, por exemplo, o Rio tinha 3 milhões de habitantes e 300 mil moradores em favelas e cortiços: 10%. Atualmente a população da cidade é de 6,7 milhões de habitantes, dos quais um terço (33%) habitam em favelas e cortiços. Há mais de 900 favelas no Rio nas quais residem em torno de 2 milhões de pessoas.

Tal fenômeno começou com o esvaziamento salarial. Os ganhos do trabalho perderam a corrida contra os preços e o IBGE. Só passaram a empatar ou vencer de pouco a partir do governo Lula. Aí está a razão principal das pesquisas do Datafolha e do IBOPE apontarem a posição de Dilma Rousseff liderando as intenções de voto para as urnas de 2014.

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