Por Humberto Pinho
da Silva
Não
há, no mundo Ocidental, família que não possua, pelo menos, um exemplar da
Bíblia, mesmo as que se declaram agnósticas.
A
divulgação do Livro, mormente o Novo Testamento, foi de tal forma feita, que
praticamente não existe quem não conheça passagens do Evangelho.
Bem
sei, que a maioria das Bíblias, encontram-se guardadas nas estantes, já que a
leitura Desta, ainda é rara entre católicos, apesar das recomendações
constantes da Igreja, para que seja diária.
Mas,
na Idade Média, não foi assim. A Bíblia era para uso exclusivo de mosteiros e
palácios. Os crentes tinham conhecimento Dela, pelos sermões e homilias.
A
descoberta da imprensa, facilitou a difusão.
Mesmo
assim, parte da literatura medieval sofreu influência do Livro.
Na
“ Arte de Bem Cavalgar Toda a Sela”, D. Duarte cita passagens do Evangelho,
assim como no “Leal Conselheiro”.
Não
admira, já que o rei possuía, na biblioteca, excertos do “Evangelho “, e seu
pai, El-Rei D. João, chegou a traduzir “ Salmos” para a linguagem de então.
D.
Duarte era, para a época, rei de elevada cultura. Fundou a primeira biblioteca
real, no paço, e escreveu várias e curiosos livros. No seu reinado foi nomeado
Cronista -Mor, Fernão Lopes.
Sabe-se
que nessa livraria havia vários livros da Bíblia, entre eles:” Actos Apóstolos
“, o “Livro dos Salmos” e “ Géneses”, todos em latim.
Há
dúvidas se existia, no paço, exemplar da Bíblia completa; é de crer que não,
mas que D. Duarte conhecia excertos, não há duvida, pois chega a citá-los no “
O Leal Conselheiro”.
Recomendava
D. Duarte que não se devia ler muito de uma acentada, para se poder compreender
e meditar melhor, e não enfartar a mente.
Recomendava
a leitura do Evangelho, e esclarecia que há passagens obscuras, que nem os
entendidos podem explicar, sem receio de errarem; mas, diz o rei, que se não
percebermos, um versículo, passemos a outro.
Assevera
D. Duarte que sempre aprendemos com a leitura do Evangelho, e se O conhecermos
bem, podemos esclarecer os que não podem ou não tiveram oportunidade de O
lerem.
Devido
à Bíblia, a língua portuguesa está impregnada de hebraísmos e expressões desse
povo.
Na
opinião do rei, a leitura do Evangelho não é perda de tempo, muito pelo
contrário.
Infelizmente,
apesar de estarmos a séculos da Idade Média, ainda há muitos crentes que
adquirem a Bíblia para engalanarem a estante.
Certa
ocasião fui visitar senhora de elevada cultura. Sabendo que era católico, quis
deslumbrar-me, mostrando uma Bíblia ilustrada de Doré, ricamente encadernada a
couro e de vistosas folhas doiradas.
Ao
entregar-ma, declarou eufórica: - “ Agora meu marido já tem uma Bíblia à sua
Altura!”
Essa
mulher apreciava os livros, como muitos avaliam os homens: pelas vestes e
aspecto exterior.
Pensava
a boa senhora, que o marido ficava mais ilustre por possuir luxuosa Bíblia.
Esses
livros, de elevado custo, em regra, não são para serem lidos, apenas servem
para deslumbrar as visitas.
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