Armênia, República Dominicana, Gâmbia, Gana, Indonésia, Zâmbia, Tunísia e Brasil. Estes foram os oito países, de uma lista total de 90 economias – ou seja, menos de 10% da amostra – que subiram os juros básicos da economia neste ano, de acordo com levantamento do site especializado no assunto "Central Bank News".
Nesta semana, a taxa Selic, referência para a economia brasileira, foi elevada pela quinta vez neste ano, para 9,5% ao ano, o maior patamar desde março do ano passado, o que levou o Brasil, novamente, à liderança do ranking mundial de juros reais – calculados após o abatimento da inflação prevista para os próximos 12 meses – pelo MoneYou.
Em 2013, os juros básicos do Brasil já subiram 2,25 pontos percentuais para controlar as pressões inflacionárias, de 7,25% para 9,5% ao ano. Segundo a listagem do site especializado, os juros básicos subiram mais, neste ano, somente na Gâmbia, cuja taxa subiu 6 pontos percentuais em 2013. Nos demais países, a elevação não foi superior a 1,5 ponto percentual – caso da Indonésia.
Ao mesmo tempo, outros 36 países reduziram a taxa básica de juros da economia neste ano para estimular a economia, em um momento no qual a conjuntura internacional ainda se ressente dos efeitos da crise financeira. Entre eles, estão economias mais tradicionais, como os países da Zona do Euro, e outras emergentes, como México, Índia, Colômbia e Turquia.
De acordo com o levantamento do Central Bank News, a maior parte dos países pesquisados (46 economias), porém, manteve a taxa estável em 2013. É o caso da Inglaterra e dos Estados Unidos, por exemplo. Nestas nações, porém, os juros já estão próximos de zero. Por conta disso, o Federal Reserve (BC norte-americano) tem se utilizado da injeção direta de recursos nos mercados – processo que ficou conhecido como “quantitative easing” – e que, de acordo com as sinalizações, tende a ser mantido por mais algum tempo.
"Lição de casa"
Segundo Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências, a subida dos juros no Brasil, neste ano, está relacionada com erros do passado. "O principal ponto é que a gente não fez a lição de casa lá atrás. A gente foi leniente com a inflação. Isso vem desde o finalzinho do segundo mandato do presidente Lula, por causa da eleição", disse ela.
De acordo com a economista, a diretoria do Banco Central no governo Dilma Roussefftambém não se empenhou em trazer a inflação para um patamar próximo da meta central, de 4,5%, além de o Tesouro Nacional não ter contribuído por meio da contenção de gastos públicos. Por isso, em sua visão, a inflação continua oscilando ao redor de 6%.
"O BC derrubou dramaticamente a selic para 7,25% ao ano [mínima histórica, que vigorava até abril deste ano]. Essa derrubada total da Selic, a gente não tinha condição de fazer. A política fiscal [gastos públicos] também não ajudou. A política monetária [definição dos juros] e a política fiscal [com aumento de gastos] foram muito frouxas. O resultado foi inflação. Chegou a um ponto que o BC teve de agir para evitar que a inflação estourasse o teto da meta [de 6,5%]", avaliou Alessandra Ribeito.
A economista da Tendências cita outros países em desenvolvimento que fizeram a chamada "lição de casa", controlando a inflação no passado, como a Colômbia, e que, por isso, estão conseguindo baixar os juros e estimular a economia neste momento de crise financeira. "Estamos indo meio na contramão dos outros países", observou ela, acrescentando que, em sua opinião, os gastos públicos continuarão em expansão no Brasil em 2014 - ano eleitoral.
Expectativa do mercado
Após a quinta alta consecutiva dos juros nesta semana, a expectativa dos economistas do mercado financeiro é de uma nova elevação da taxa básica de juro em novembro. A intensidade, porém, ainda não é consensual. A maior parte dos analistas acredita em um aumento de 0,25 ponto percentual, de 9,5% para 9,75% ao ano, mas outros já acreditam em um aumento maior: para 10% ao ano - novamente no patamar de dois dígitos.
Pelo sistema de metas que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por base o IPCA. Para 2013 e 2014, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente. O presidente da instituição, Alexandre Tombini, porém, tem se comprometido somente com a queda da inflação neste ano, frente ao patamar de 2012 (5,84%) e, também, com novo recuo em 2014.
A subida recente dos juros e o possível retorno ao patamar de dois dígitos, ainda em 2013, segundo analistas, não está em consonância uma das principais marcas, até então, do governo Dilma Rousseff na área econômica. Mesmo defendendo o controle da inflação, a presidente da República destacou, por diversas oportunidades nos últimos anos, a queda dos juros básicos e também pressionou os bancos a reduzirem suas taxas ao consumidor.Foto: Divulgação/Fonte: G1
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