Por
Humberto Pinho da Silva
Merendava numa confeitaria, nas
proximidades do Jardim de S. Lazaro, no Porto, quando o empregado,
confidenciou-me, que tudo fora liquidado por senhora, que se encontrava no
fundo do salão.
Estupefacto, ergui-me, para
avizinhar-me e agradecer a generosidade, quando velhinha, de braços abertos,
dirigiu-se para mim.
Era antiga
colega de trabalho.
No curto diálogo que travei,
fiquei a conhecer que ficara viúva. Vivera meses de solidão, rodeada de tristes
recordações, que mais triste a deixavam ficar.
Contaram-lhe que existiam
religiosas que acolhiam, com hóspedes, senhoras idosas, cobrando parte da
pensão.
Procurou, e
acabou por entrar numa dessas casas.
Estava feliz. Tão feliz, que
praticamente era uma delas. Não que as Irmãs a incentivassem, mas sentia-se bem
em participar em todas as devoções que faziam.
Mas nem todos os idosos têm
igual sorte: ou porque a pensão é muito baixa, ou porque, abandonados pela
família, não têm outro remédio senão entrar num lar de fraca qualidade.
Conheço senhora, viúva, que
vendo-se só, sem carinhos de filhos, resolveu internar-se numa residencial.
Após cuidadosa busca, “
comprou” quarto, tendo, para isso, vendido o apartamento em que vivia.
Decorridos meses, verificou que
se tinha enganado. Não gostou do convívio, da comida, nem da forma como a
tratavam.
Decidiu sair; mas não lhe
devolveram o dinheiro. Rapidamente verificou que perdera tudo que possuía.
Alugou, então, pequeno
apartamento mobilado, e está agora em pior, circunstâncias, do que então.
Escolher lar não é tarefa
fácil, tanto mais que a maioria não tem possibilidade de volta, já que
praticamente entrega tudo que tem à administração, ficando à mercê desta.
Para que assim não aconteça,
seria vantajoso, haver a possibilidade de transferência de residencial, sem
despesa para o utente.
Seria também bom, que Ordens
Religiosas, que possuem grandes espaços, abrissem, a troco de módicas quantias,
as instalações a idosos. Seria rendimento para a Casa e obra de caridade.
Outrora, os avós, eram figuras
estimadas, imprescindíveis para a felicidade dos netos. Actualmente, ou por
falta de espaço ou falta de tempo, os filhos atiram os pais para lares e
residenciais, como eufemisticamente se apelidam os antigos asilos.
Receio, que chegará o tempo,
que a sociedade, incentivará a eutanásia, para se livrar dos idosos de baixo
recursos, do mesmo jeito que hoje matam o nascituro, porque os pais não podem
cuidar e o Estado não quer encargos com sua educação.
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