De dia, Fábio*, 38, passava horas sozinho na frente do notebook, num escritório no Itaim Bibi (zona oeste paulistana), administrando fazendas de gado da família no Centro-Oeste do país.
"Escravo" da droga há dez anos, Fábio saiu de sua segunda internação no fim do ano passado, após nove meses dentro da clínica Greenwood, na Grande São Paulo. Um mês lá sai por R$ 30 mil (leia texto ao lado). Fábio não é só um exemplo de dependente químico que já foi internado involuntariamente, mas também a prova de que o crack não é exclusividade da multidão que se acotovela na chamada boca do lixo do centro da cidade em busca da pedra. O crack está na elite paulistana. Para definir o destino de pessoas tão viciadas quanto ele, o governo estadual tem, há duas semanas, um programa para facilitar a internação à força --médicos, juízes, promotores, advogados e defensores públicos fazem plantão num posto de atendimento a dependentes, no centro. Os atendidos, são, na maioria, famílias do extremo da pobreza. Exemplo da outra ponta, de família abastada e aluno de escolas renomadas da cidade, Fábio usa cocaína desde os 28 anos. O abuso de drogas pesadas foi precedido por despretensiosas bebericadas em destilados, na adolescência. "Meu começo foi com o álcool, que levou ao cigarro. Juntos, abriram as portas para a maconha. Fiquei assim até os meus 28. Aí apareceu a cocaína e, depois, o crack. Daí para frente, todas juntas", disse à Folha, um mês após sair do isolamento. O vício nunca o obrigou a frequentar as biqueiras ou cracolândias da vida. "Em qualquer lugar do mundo, se você quer comprar droga, é só abrir o jornal e ligar para o número de uma garota de programa."
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