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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

PR: Paciente morto em UTI diz em carta que "ficou louco"



A dona de casa Casturina Garcia Ribas, de 45 anos, prestou depoimento na Polícia Civil na manhã desta segunda-feira (25) sobre o caso da médica Virgínia Soares Souza, presa na terça-feira (19), em Curitiba, suspeita de homicídio qualificado na UTI geral do Hospital Evangélico.

"Eu perdi meu irmão na UTI desse hospital em 2007 e quero saber a verdade. Na época, além dessa médica presa, ele tinha sido atendido por outra médica do hospital", afirmou a dona de casa. Casturina relatou ainda que o irmão chegou a escrever várias cartas a família relatando que precisava de ajuda e que tinha visto o paciente do leito ao lado morrer após desligarem o aparelho que o mantinha vivo.

Virgínia foi presa em uma operação da Polícia Civil que investiga as mortes na UTI do hospital, que é considerado o segundo maior da capital paranaense. Trechos de gravações do depoimento prestado pela médica, indiciada por homicídio qualificado contra pacientes da UTI do Hospital Evangélico de Curitiba, foram obtidos com exclusividade pela reportagem. Nas transcrições, ela afirma que foi mal interpretada por falas como "Quero desentulhar a UTI que está me dando coceira". A frase teria sido dita pela médica, mas a origem da gravação não foi informada pela polícia.

O advogado de defesa Elias Mattar Assad disse que não há provas contra a médica. "Nas várias certidões de óbito de pessoas que teriam morrido, nenhum dos atestados foi firmado pela minha cliente. Todos as certidões também tinham laudos do IML atestando as mortes como sendo ou de causas acidentais ou naturais".

O irmão da dona de casa tinha sido baleado no abdome e dizia em uma das cartas: "Se não sair daqui até sábado, daí sim fico louco". Em um trecho de outra carta ele dizia: "Tudo açougueiro. tem coisas que nem usa daquele jeito. Por isso que fiquei louco".

Casturina disse também que em diversas vezes o irmão relatou que os médicos davam preferência aos pacientes que tinham planos de saúde. "Aos que eram do SUS, ele dizia que eram mal tratados. E isso era verdade, eu presenciei ele várias vezes sem os cuidados básicos de higiene", reclama.


"Logo que eu vi a cara da Virgínia na televisão, lembrei da situação do meu irmão. Lembro que sempre que eu perguntava sobre o meu irmão ela era sempre negativa e dizia que ele não ia sair daquela situação, que era lastimável. O que mais me preocupa é saber porque ela mandou ele para o quarto, sendo que ele ainda precisava dos aparelhos da UTI, aponta Castorina.

Ela afirma que logo após a transferência para o quarto, o irmão morreu. "Eu conversei com outras pessoas do hospital, inclusive um dos diretores, e ele afirmou que ele [ o irmão] não poderia ter saído da UTI, que ainda estava em tratamento. Então, hoje eu penso que ela [ a médica] fez isso talvez porque quisesse liberar uma vaga para outra paciente na UTI, sei lá...", explica.

"Eu não pretendo processar ninguém, não tem dinheiro que pague a morte do meu irmão. Mas eu não vou medir esforços para ajudar a polícia a descobrir a verdade", relata a dona de casa.

Prisões
Além da médica Vírgínia, outros três médicos suspeitos de envolvimento no caso foram presos temporariamente pela Polícia Civil no sábado (23). Dois são anestesistas. Uma enfermeira que também foi indiciada pela polícia e estava foragida deve prestar depoimento ainda nesta segunda-feira.

Virgínia, assim como os médicos presos, negou as acusações e disse que os procedimentos que adotou, neste período de sete anos em que chefiou a UTI, foram atos médicos. Disse ainda que as acusações partem de ex-funcionários e admitiu que fez inimigos no trabalho por ter temperamento forte. Ela conversou com exclusividade com o Fantástico, mas não quis gravar entrevista. A médica atuava no hospital desde 1988 e chefiava a UTI desde 2006.

Na sexta-feira (22), Virgínia apresentou uma carta em própria defesa. O documento foi entregue à imprensa pelo advogado dela, Elias Mattar Assad, que concedeu uma entrevista coletiva sobre o caso. A carta coloca em xeque a investigação, questionando a inexistência de provas válidas. “O livre exercício da medicina está em risco no Brasil”, diz trecho do documento.

Ela diz que se o modelo de investigação da polícia paranaense obtiver êxito, qualquer morte em UTI poderá ser considerada imperícia ou mesmo homicídio qualificado. “A ciência médica não pode ser relativizada ou mesmo inviabilizada no seu livre e ético exercício, pelos altos riscos a que doravante estarão expostos os seus profissionais”, diz outra parte da carta. O texto ainda classifica a investigação como “o maior erro investigativo e midiático da nossa história”.

O Hospital Evangélico informou que dará mais detalhes sobre o caso em uma entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira.

Investigações
A polícia apreendeu seis prontuários de pacientes que ficaram internados e morreram na UTI do hospital, segundo o advogado Mattar Assad. Por meio da assessoria de imprensa, a Polícia Civil informou que, como o caso tramita em caráter sigiloso, não vai divulgar o período que a investigação abrange.

O Conselho Regional de Medicina (CRM) está investigando a conduta da médica. O Hospital Evangélico abriu uma sindicância para apurar o caso. Fonte: G1

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