Li alguém dizer que boa parcela de nossos talentos busca vagas em trabalhos (públicos) que não acrescentam nada ao avanço da nação; que a maior parte dos cargos públicos volta-se à operacionalização e manutenção da máquina estatal e nada mais que isso; e que apenas manter a máquina não gera crescimento. Tudo isso foi dito, em contraponto, para justificar o valor do empreendedorismo, área que vem se expandindo. Mas, vamos devagar com o andor...
Se todos os talentos fossem direcionados somente às áreas das ciências exatas, econômicas, sociais etc. faltariam também competentes em outras áreas das atividades humanas. O serviço público, com todos os seus defeitos, também precisa de gente competente, de boa formação cultural.
Considero pueril o pensamento de que a atividade pública nada acrescenta ao avanço da nação. Contesto afirmando que a atividade pública é um componente importante da engrenagem do desenvolvimento da nação. Se todos os países têm a sua máquina pública, desempenhada por funcionários públicos, logo a atividade pública é importante ao desenvolvimento da nação.
A afirmação de que a máquina pública não gera crescimento econômico, é como propor a extinção do serviço público. Mas os serviços públicos são necessários, aqui e na China. Sem esses serviços o país para.
Não se questiona o pensamento positivo do empreendedorismo, muito em evidência na atualidade. Mas o empreendedorismo não pode ser voltado somente às atividades privadas, onde, por suas características, o empreendedor trabalha com liberdade e assume os riscos de suas empreitadas. Mas há empreendedorismo também dentro dos serviços públicos, porém com responsabilidade.
Por outro lado, nem todas as pessoas desejam ser cientistas, filósofos, matemáticos, engenheiros, médicos, comerciantes, empresários etc. Há aqueles que escolhem como profissão ser funcionários públicos, e outros, militares etc., e nem por isso deixam de ser importantes para o desenvolvimento da nação.
A título ilustrativo, sobre a importância do serviço público e de seu funcionalismo, leiam trecho do artigo “Máquina Pública – Déficit”, do professor José Wilson Granjeiro:
“Os países desenvolvidos são reconhecidos pela eficiência do serviço público. A maioria dessas nações, em especial as europeias, entende que o Estado deve ser promotor do bem-estar social. Nesses países, o Estado garante a todos os cidadãos padrões mínimos de educação, saúde, habitação, renda e seguridade social. Mas, para chegar lá, é preciso contar com uma máquina administrativa ativa, capacitada, equilibrada e eficiente. O Estado tem, portanto, de investir no setor público.
Nos últimos anos, o Brasil tem procurado investir em sua máquina pública, embora ainda de maneira tímida. Na Europa Ocidental, os servidores representam, em média, 25% do total de trabalhadores com emprego, segundo dados fornecidos pelo Ipea. Dos países daquela região, a França se destaca, com o índice de 28%. Na comparação com o Brasil, onde essa relação é de apenas 15%, a defasagem fica evidente, consideradas as proporções territoriais de nossa nação. Mas esse déficit era maior uma década atrás, quando apenas 18% do total de trabalhadores economicamente ativos eram servidores públicos.
Para aumentar ainda mais a vergonha nacional no que concerne a nosso funcionalismo público, o índice brasileiro perde até para alguns países da América Latina, como Uruguai (15%), Costa Rica (14%), Panamá (15%) e Paraguai (13%). Na Argentina, a média é de 12,6 servidores públicos para cada grupo de mil pessoas.”
Júlio César Cardoso
Bacharel em Direito e servidor federal aposentado
Balneário Camboriú-SC
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