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domingo, 5 de agosto de 2012

TRANSPLANTE DE CÓRNEA: Tempo na fila de espera cai de quatro anos para seis meses

Dados da Central de Transplantes revelam que, em 2006, pessoas aguardavam até quatro anos pelo órgão.

Ver o mundo, as cores da vida e o rosto das pessoas com mais nitidez. Poder andar sem ter medo de cair, ou ler o letreiro de um ônibus sem precisar pedir ajuda para ninguém. Para muitas pessoas com dificuldades visuais, essas sensações só podem ser sentidas através da solidariedade daqueles que aceitam doar as córneas. No Ceará, por exemplo, o tempo de espera por um transplante de córnea vem diminuindo a cada ano.

Desde a criação do Banco de Olhos do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), há seis anos, o número de transplantes de córnea só tem aumentado FOTO: FABIANE DE PAULA

Conforme dados da coordenadora da Central de Transplantes do Estado, Eliana Barbosa, em 2006, era preciso aguardar até quatro anos. Agora, no entanto, em apenas seis meses, o procedimento é realizado. De acordo com informações da Central de Transplantes, de janeiro a julho deste ano, 404 transplantes de córneas foram realizados, 3,5% a mais do que a igual período do ano passado, quando foram feitos 390 procedimentos.

Apesar do crescimento parecer pequeno, Eliana Barbosa diz que é significativo e afirma que a expectativa é de zerar a fila até dezembro. Para ela, durante todo o ano passado, foram feitos 795 transplantes, e a fila de espera era de 339 pessoas. Até a semana passada, a fila se tinha reduzido para 293, e a equipe realizava cirurgias em pacientes que aguardavam desde fevereiro.

O pedreiro Suetônio Miranda Rodrigues, 40 anos, tinha uma hérnia no olho esquerdo e corria o risco de perder a visão. Na semana passada, ele foi beneficiado com uma córnea, após ter esperado apenas oito dias. "A minha hérnia tinha estourado. Portanto, se eu não fizesse esse transplante, corria o risco de nunca mais enxergar, por isso eu tive prioridade na fila de espera", ressalta. O pedreiro conta que foi um alívio, pois as dores eram insuportáveis. "Agradeço a Deus e aos médicos do Ceará por essa vitória", destacou.

Tempo

Eliana Barbosa atribui a redução do tempo de espera à grande quantidade de captações realizadas no Estado e afirma que, até dezembro, a expectativa é de zerar essa fila. "No ano passado, o tempo que um paciente aguardava era de oito meses, agora é de seis. Estamos evoluindo e espero que até o fim do ano não temos que esperar tanto", esclarece.

Segundo ela, a córnea, diferente de outros órgãos, pode esperar até seis horas após a parada do coração para ser transplantada. Fator que deveria facilitar na aceitação da família. "É muito difícil abordar um parente no momento de dor, mas no caso das córneas não é necessário retirá-las apenas com o diagnóstico de morte encefálica, então os familiares têm mais certeza de que o parente está morto", explica.

Conforme Eliana, outro motivo para a redução do tempo médio de espera é a atuação constante de capacitação dos profissionais de saúde e as frequentes reuniões com as Comissões Intra-hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT). "Esse trabalho é fundamental para que possamos ter um número maior de doações e, por consequência, um crescimento no número de transplantes".

Segundo a coordenadora do Banco de Olhos do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), a oftalmologista Marineuza Memória, desde a criação do setor no hospital, há seis anos, a evolução no número de transplantes de córnea tem sido significativa.

Ela ressalta que esperava um aumento maior na quantidade de procedimentos no primeiro semestre. "A fila era de quatro anos e, agora, é de seis meses. As coisas melhoraram bastante. Antes, tínhamos uma média de dez doações por mês, assim os pacientes perdiam a oportunidade de voltar a enxergar. Agora, são cerca de 50 doações por mês".

Doe de Coração

Reconhecendo a necessidade de se trabalhar junto à sociedade o tema doação de órgãos, a Fundação Edson Queiroz lançou, em 2003, a Campanha Doe de Coração, com o objetivo de conscientizar, através da veiculação de peças publicitárias nos principais meios de comunicação, como TV, jornal, rádio e internet, sobre a importância de doar os órgãos. Então, com o intuito de fortalecer essa ação, há distribuição de camisas, cartilhas e material promocional de apoio, além da realização de palestras com profissionais especializados em diferentes momentos.

Desde que essa iniciativa foi criada no Estado do Ceará, o número de doações não parou de crescer, mostrando que a Campanha Doe de Coração vem influenciando positivamente a população, contribuindo, assim, para a quebra de tabus relacionados à doação de órgãos. Isso porque, devido à falta de informações, muitas vidas podem deixar de ser salvas.

Pacientes enfrentam dificuldades no SUS

Apesar da evolução nas doações e nos transplantes, alguns pacientes ainda sofrem com a carência de exames ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O estudante Leandro Vieira, 13 anos, mora em Baturité e veio a Fortaleza fazer exames na visão. Contudo, não conseguiu, ainda, realizar a topografia da córnea, já que a oferta pelo SUS é reduzida. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS), por exemplo, não oferece o serviço e a Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) mantém apenas um aparelho no HGF.

A irmã dele, Lidiane Vieira, diz que o menino começou a sentir muita dificuldade na escola e a família foi alertada pela professora. Ela conta que levou o irmão para uma clínica. Lá, a oftalmologista identificou um grau elevado de astigmatismo e solicitou o exame. Porém, ela descobriu que, no Instituto dos Cegos do Ceará, o aparelho está quebrado há mais de um ano e, em outras clínicas, a topografia custa de R$150 a R$250.

Interior

"Isso é um absurdo, pois pagamos impostos e temos direito a fazer exames, mesmo que sejam caros. Dessa forma, meu irmão vai acabar voltado para Baturité sem saber o que tem na visão, pois não temos condições de pagar e ele não pode perder aula na escola", diz Lidiane.

A oftalmologista Marineuza Memória, coordenadora do Banco de Olhos do HGF, afirma que o hospital é a única unidade que tem o serviço gratuito. "A topografia é importante para saber se o paciente precisa fazer um transplante. O SUS tem que pagar". KARLA CAMILA - REPÓRTER / http://diariodonordeste.globo.com/

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