A Polícia Federal sustenta que a Delta Construções encomendava notas frias para dar fachada legal a pagamentos feitos à organização do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Os pedidos eram feitos a um empresário, acusado de fornecer para a quadrilha os documentos e montar empresas de "prateleira", sem funcionários ou atividades reais.
Descrito em relatório da PF, o esquema foi revelado com base em análise de papéis e e-mails apreendidos na JR Prestadora de Serviços, um dos CNPJs usados pela Delta para pagar serviços supostamente fictícios. Na firma, em Anápolis (GO), foram recolhidos documentos sobre a constituição de mais cinco pessoas jurídicas (Brava Construções, Let Laminados, Flora Brasil, Gold Petro e Libra Factoring), cujas contas eram movimentadas por homens de Cachoeira. O responsável pelo escritório seria Francisco de Asis Oliveira, apontado como criador das empresas.
Convênios. Segundo a PF, Oliveira está envolvido no desvio de R$ 300 milhões de convênios firmados principalmente por prefeituras com uma entidade com sede no Paraná. As fraudes foram reveladas em 2010 pela Operação Parceria. Segundo as investigações, R$ 70 milhões passaram por uma das empresas de Oliveira.
Os detalhes do esquema com a Delta constam de e-mails apreendidos pela PF, trocados pelo empresário com Adriano Aprígio de Souza, ex-cunhado de Cachoeira e apontado como laranja do esquema. Em mensagem de 14 de janeiro de 2010, Aprígio pede ajuda para justificar um pagamento: "Preciso receber em uma construtora 600 e não estou conseguindo. Você não me ajudaria a levantar uma nota para receber isso?".
Mensagens posteriores dão detalhes. Aprígio diz que precisa de uma empresa de "prestação de serviços" e não de "vendas" e avisa que seria necessário cadastrá-la na "matriz" - provavelmente a empreiteira - para receber pagamentos via transferências bancárias.
Após a apresentação da Delta, a Brava Construções e a JR passaram a ter como representante em bancos o contador de Cachoeira, Geovani Pereira da Silva. De acordo com a PF, vinha da Delta a maior parte dos recursos recebidos por essas empresas, que serviam para fazer pagamentos a pessoas ligadas a políticos.
Segundo documentos da CPI do Cachoeira, só das contas da JR foram sacados mais de R$ 7,5 milhões entre abril e agosto de 2010. A empresa emitia cheques nominais para si mesma e autorizava pessoas a descontá-los, operação atípica que serve para encobrir a identidade dos beneficiários do dinheiro. Os saques eram quase sempre abaixo de R$ 100 mil, valor a partir do qual as transações são monitoradas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Fazenda.
O Estado não localizou Oliveira ou responsáveis pela JR. A Delta não respondeu a perguntas enviadas à sua assessoria de imprensa. Em nota, informou que "quitou serviços prestados".
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