247 – Uma semana depois de denunciar uma chantagem feita pelo ex-presidente Lula contra o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, que foi desmentida pela única testemunha do encontro, o ex-ministro Nelson Jobim, em 24 horas, Veja voltou ao tema, neste fim de semana, para proclamar vitória.
Numa capa intitulada “Um tiro no pé”, a revista argumenta que tudo deu errado na estratégia do “aloprado” cérebro do ex-presidente – quando, curiosamente, seria possível argumentar que Veja também deu um tiro no pé com sua reportagem, que apenas serviu para lançar suspeitas sobre sua conduta política e sobre o decoro dos ministros do STF.
A revista comparou a estratégia de Lula a um plano da Primeira Guerra Mundial, o Plano Schlieffen, que pretendia dar à Alemanha uma vitória esmagadora sobre França e Rússia em poucas semanas de combate. Os alemães, como se sabe, perderam. Assim como Lula, segundo Veja, também perdeu. Mas a revista se comporta como aquela tropa abatida, que chega em casa aos farrapos, sem munição, sem quadros e sem canhões, dizendo-se vitoriosa, de cabeça erguida. Veja venceu porque, simplesmente, proclamou sua vitória.
A prova da vitória da revista seria um documento da liderança do PT na Câmara dos Deputados, que listava alguns pontos a serem abordados pelos parlamentares que integram a CPI do Cachoeira. Pontos como a viagem de Gilmar Mendes a Berlim e o fato de o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ter prevaricado ao engavetar as investigações sobre a Operação Vegas – aliás, quem fez essa acusação na semana passada foi o “mosqueteiro da ética” Demóstenes Torres.
A CPI deu em nada
Ainda que a CPI fosse fruto de um plano mirabolante do cérebro aloprado de Lula, será que deu mesmo em nada, como argumenta a revista Veja? Eis o que se tem até agora:
- um governo, como o de Marconi Perillo, em situação extremamente delicada, em razão de sua ligação umbilical com o esquema de Carlos Cachoeira.
- a prova de que despesas de campanha deste mesmo governo foram pagas com caixa dois do esquema Cachoeira.
- uma empreiteira aparentemente inidônea sendo expelida do mercado de obras públicas.
- indícios veementes de que o procurador-geral da República engavetou uma investigação importante.
- um senador que posava como “mosqueteiro da ética”, Demóstenes Torres, desmoralizado por seus pares, depois que decidiu se calar no parlamento.
- o esquema de um bicheiro, infiltrado em todos os poderes da República, inclusive a mídia, sendo passado a limpo.
Não é pouca coisa o que se tem até agora. E quem está vencendo, neste clima de confronto entre forças políticas antagônicas, é a sociedade brasileira.
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