Fernando Cavendish, dono da Delta: o recado foi entendido
No mesmo dia em que a Delta foi punida pela CGU, empresário mandou recado a um parlamentar: a maioria das grandes empreiteiras paga propina a servidores públicos e políticos – e usa os mesmos laranjas
Na terça-feira, a Controladoria-Geral da União (CGU) declarou inidônea a Delta Construções, a empreiteira de Fernando Cavendish que está no centro do caso Cachoeira.
Dois dias depois, a CPI que investiga o escândalo negou-se a ouvir o empresário.
Pareceu um tremendo contrassenso.
E é.
Mas tem explicação.
Reportagem de VEJA desta semana revela que Cavendish tem ameaçado revelar segredos que comprometem outras empreiteiras.
No mesmo dia em que a CGU anunciou a punição à Delta, Cavendish esteve em Brasília.
Numa conversa com um parlamentar de quem é amigo, disse que não apenas a Delta, mas a maioria das grandes empreiteiras paga propina a servidores públicos e políticos em troca de obras e aditivos contratuais.
Conforme Cavendish, a Delta adotou o mesmo sistema: para dificultar o rastreamento da propina, repassava os recursos a empresas-laranja, que, posteriormente, entregavam o pedágio a quem de direito.
Sentindo-se injustiçado por ser o único a expiar os pecados em público, Cavendish apresentou ao parlamentar um conjunto de empresas-laranja que serviriam à Delta e às concorrentes.
Todas funcionam em São Paulo e têm como proprietário o empresário Adir Assad, apesar de estarem em nome do técnico em refrigeração Jucilei Lima dos Santos e de Honorina Lopes, sua mulher, ambos no papel de laranjas.
Cavendish conhece como poucos Adir Assad – e os serviços prestados por ele.
Há duas semanas, VEJA revelou que a Delta repassou 115 milhões de reais a empresas-laranja.
Do total, 47,8 milhões abasteceram as contas da Legend Engenheiros Associados, da Rock Star Marketing e da SM Terraplanagem, que também são de propriedade de Adir Assad.
As sete novas empresas de engenharia e de terraplanagem, segundo Cavendish, fariam parte do mesmo laranjal.
O parlamentar que conversou com Cavendish passou o relato adiante.
Foi como se acendesse um rastilho de pólvora que percorreu as bancadas do PMDB, PP, PR e PT.
O recado foi entendido como um pedido de solidariedade e, claro, como uma ameaça velada, destinada a trazer novas empresas e parlamentares para o centro da investigação. “Está claro que convocar o Cavendish é trazer para a CPI todas as empreiteiras”, diz um graduado petista, que votou contra a convocação do empreiteiro.
Só uma investigação acurada sobre a movimentação financeira das empresas-laranja revelará se Cavendish blefa ou fala a verdade.
O fato é que, na semana passada, o empresário foi blindado, apesar da fartura de indícios que pesam contra ele.
Planilha – A própria CPI já detectou que houve grande quantidade de saques em dinheiro, às vésperas das eleições, nas tais empresas-laranja abastecidas pela Delta.
Uma planilha em poder da comissão também revela que contas da empreiteira que recebiam os recursos federais foram as mesmas que transferiram dinheiro para uma empresa-laranja sediada em Brasília, agraciada com 29 milhões de reais.
Os parlamentares de oposição acreditam que encontraram o caixa usado para subornar funcionários do governo federal.
A CPI desistiu de votar a convocação de Cavendish por 16 votos a 13.
Prevaleceu a maioria formada por aquilo que o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) chamou de “tropa do cheque” – expressão cunhada um dia antes, num ato falho, pelo deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF).
A tropa pró-Cavendish foi integrada pelos parlamentares do PT e da base aliada.
Para a definição do placar, foram decisivos dois parlamentares: o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que se alinhou à maioria, e o deputado Maurício Quintella Lessa (PR-TO), que não participou da sessão.
Soube-se depois que Nogueira e Lessa haviam se encontrado na Semana Santa com Cavendish num restaurante em Paris.
Os parlamentares alegam que o encontro foi casual e não teria influenciado sua posição dos dois na comissão.
* Veja.abril.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário