O que o mercado vinha chamando jocosamente de 'contabilidade criativa' agora já vai sendo nominado com uma palavra mais precisa: fraude.
E o que a princípio se avaliou, entre as autoridades, como um fato isolado, se mostra agora o foco inicial de um vírus que já contamina, sem exceção, todos bancos pequenos e médios.
Patrocinada pela atuação irresponsável do 'bom vivant' Luiz Octavio Índio da Costa, a quebra do Cruzeiro do Sul já se mostra um escândalo financeiro de proporções bilionárias, executado à sombra de um sistema que se orgulha de suas regras de segurança. Elas, entretanto, a exemplo da recente quebra, igualmente por fraudes, do Banco Panamericano, se mostraram frágeis e insuficientes para barrar manobras grosseiras francamente ilegais.
Além de ter vendido, num movimento absolutamente suspeito, R$ 115 milhões de ações preferenciais do Cruzeiro do Sul às vésperas da intervenção do BC (leia aqui), o comando do banco vinha realizando milhares de pequenas operações que já vão sendo entendidas pelos técnicos como fraude contábil. Elas ocorriam na forma de empréstimos lastreados em créditos consignados sobre os pagamentos de servidores públicos e aposentados do INSS. Sempre abaixo de R$ 5 mil cada um, de forma a não serem detectados pelos radares do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), esses empréstimos eram repassados a fundos administrados pelo próprio Cruzeiro do Sul, que assim ficavam inflados. O modo de ação foi um tanto diferente do ocorrido no Banco Panamericano, que pertencia ao empresário Silvio Santos.
Naquele caso, os créditos eram repassados a outros bancos. A coincidência é o uso dos empréstimos consignados como base para as manobras mirabolantes. Agora, os 'micos' circulavam internamente à instituição, que os tornava rentáveis na base de golpes de caneta em seus balanços. Uma consequência direta da descoberta, agora, após a intervenção, dessas operações, é a iminente liquidação de dois fundos de investimentos administrados pelo Cruzeiro do Sul: o BCSul Verax Multicred Financeiro e o BCSul Verax Crédito Consignado II, com carteiras estimadas, no total, em nada menos que R$ 4,223 bilhões.
O certo é que as descobertas do rombo gigantesco, inicialmente estimado em R$ 1,3 bilhão, assustaram os investidores em CDBs de bancos pequenos e médios. Os próprios bancos não estão oferecendo esses papéis, que são remunerados de acordo com o custo de captação do dinheiro que os próprios bancos tomam no mercado. A paralisação completa da compra e venda de CDBs entre instituições pequenas e média, como informa reportagem do jornal Folha de S. Paulo desta quarta-feira 6, indica que eles não estão conseguindo captar dinheiro no mercado a custo competitivo para tornar a ser emprestado. Em outras palavras, iniciou-se um processo de asfixia que pode levar mais instituições a terem problemas de fluxo de caixa. De 247
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