247 – Palco de uma batalha campal no fim de janeiro entre moradores sem-teto e a polícia militar do governo de São Paulo, o terreno do Pinheirinho tem dono. Trata-se do empresário de origem libanesa Naji Nahas, que é um dos maiores investidores imobiliários do País. Oficialmente, o terreno pertence à massa falida da empresa Selecta, que pertenceu a Nahas nos anos 80. Mas como a Selecta praticamente não tem mais dívidas e a falência será levantada, o terreno avaliado em R$ 180 milhões voltará às mãos do investidor.
Neste domingo, ele concedeu a primeira entrevista desde o início da polêmica em torno da desapropriação do terreno. Falou a três jornalistas da Folha de S. Paulo: Julianna Granjeia, Laura Capriglione e Marlene Bergamo. E não teve meias palavras ao se referir ao seu direito de propriedade. “Eu faço o que quiser do terreno. É problema meu. É engraçado me censurarem por eu ser o único beneficiário dessa reintegração de posse. Sou, sim, mas sou o dono. Paguei pelo terreno e fiquei oito anos sem poder usá-lo.”
No Pinheirinho, viviam 1,5 mil famílias e 9 mil pessoas. A violência na reintegração de posse, determinada pela juíza Márcia Loureiro, gerou protestos nas redes sociais, em entidades de defesas humanos e no próprio Congresso Nacional, onde o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), contrário à ação, bateu boca com o colega Aloizio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que a defendeu. Também procurada pela Folha, a juíza Márcia afirmou desconhecer que Nahas fosse o verdadeiro dono do terreno. “O que eu tenho no processo é a certidão do cartório do registro de imóveis, em que consta a Selecta”, disse ela. “Para mim pouco importa se é o Naji Nahas, uma pessoa jurídica ou uma pessoa física”, completou.
O investidor, por sua vez, pretende lotear um grande empreendimento imobiliário na região. O bairro, segundo ele, se chamaria “Esperança”. Perguntado sobre o porquê do nome, ele respondeu: “Esperança de o governo resolver o problema desses coitados”. Segundo Nahas, não é ele o responsável por resolver problemas habitacionais do País. Este novo bairro já nasceria avaliado em R$ 500 milhões.
Personagem polêmico
Nahas é, sem sombra de dúvida, um dos personagens de biografia mais rica da cena empresarial brasileiro. Herdeiro de uma próspera família do Egito, que foi desapropriada no regime de Nasser, ele foi para o Líbano, e de lá para o Brasil. Chegou num voo que acabou sequestrado para Cuba. Já trazia também US$ 50 milhões que foram declarados ao Banco Central como investimento direto.
Depois disso, ele se tornou nacionalmente conhecido por ser o maior comprador de ações do País – em 1989, ele foi preso acusado de provocar a quebra da bolsa de valores do Rio de Janeiro. Nahas, por sua vez, acusa o empresário Eduardo Rocha Azevedo, ex-presidente da Bovespa, de ter mudado as regras do jogo para quebrá-lo. Diz ainda que, se não tivesse havido a ação de 1989, ele seria hoje o maior acionista da Vale e da Petrobras, competindo com o mexicano Carlos Slim pelo posto de homem mais rico do mundo. Rocha Azevedo, por sua vez, é um dos donos, entre outras coisas, da revista Carta Capital, que, recentemente, dedicou uma capa contra Nahas.
Bem relacionado no mundo inteiro, especialmente nos países árabes, Nahas é uma figura do jet-set internacional. Diz que adoraria dar casas para todos os necessitados, mas afirma que esta é uma questão de governo. “O problema não é Naji versus sem-teto. O problema da moradia no Brasil é do governo, não meu.”
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