Com um misto de tristeza e indignação, a mãe se sente desprotegida pelas autoridadesFoto: Ney Rubens/Especial para Terra
Ela tem apenas 14 anos, mas, apesar da pouca idade, tem a certeza de que nasceu de novo. Espalhadas pelo corpo, a estudante traz marcas terríveis de uma covardia extrema. Nas duas pernas, queimaduras de 2º e 3º graus que vão fazer com que ela passe por várias cirurgias plásticas de reconstrução da pele da cintura para baixo. No peito e na barriga, furos provocados por uma chave de fenda. Os pulmões foram perfurados e a recuperação começou depois de uma longa cirurgia, que também deixou uma extensa cicatriz. Nos braços e na cabeça, ferimentos provocados por tijoladas.
A estudante se recupera em um leito do Hospital Regional de Betim, região metropolitana de Belo Horizonte, onde ela e os pais conversaram com o Terra. Sedada, a garota apenas balançou a cabeça confirmando que estava bem, apesar do semblante denunciar as fortes dores que ela sentia.
A mãe, Claudia dos Santos Máximo, resumiu, a situação da filha: "Tirando as dores ela está bem, graças a Deus. Ela ressuscitou", disse. "Ela saiu da cirurgia geral, mas vai ter que fazer cirurgia plástica, ela queimou da cintura para baixo toda."
Mãe e filha não confirmaram, mas também não desmentiram, que as agressões que a estudante sofreu de quatro colegas de escola podem estar relacionadas a desavenças por causa de um namorado, e também por ela ser muito bonita. Esses fatos teriam incomodado as autoras da sessão de espancamento e tentativa de homicídio com requintes de crueldade.
No último dia 12 de dezembro, por volta de 22h, a estudante pediu aos pais para sair com as amigas. Cerca de uma hora depois, foi encontrada em um matagal amarrada a uma árvore, seminua e agonizando. Além de ter sido agredida com um tijolo na cabeça, a menina levou estocadas no peito e na barriga com uma chave de fenda, e depois de estar desacordada ainda teve o corpo incendiado. Ela foi resgatada por policiais militares que receberam uma denúncia anônima.
"Eram quatro mulheres, todas estudantes da mesma escola. A minha filha me contou que enquanto três a seguraram e a amarraram, outra veio com a chave e a furou. Ela contou que ao passar pelo matagal onde foi encontrada, falou para as meninas que queria fazer xixi. Quando terminou, ainda agachada, ela levou duas tijoladas na cabeça. Quando ela caiu no chão e foi amarrada, as meninas atearam fogo nela e uma das menina passou a atacá-la, gritando para outras matarem minha filha", contou a mãe.
"Eu acredito que o crime foi todo premeditado, pois minha filha disse que tinha visto os tijolos e o álcool na bolsa de uma delas, mas não imaginava nada. Essa menina (que teria desferido os golpes com a chave de fenda) é muito perigosa, pois ela já tem dois homicídios, um filho e já é viúva com apenas 22 anos."
No hospital e ainda sem previsão de alta, a garota tenta esquecer o que passou, mas a família disse que está preocupada, com medo de um novo ataque. "O promotor (de Justiça) pediu para a gente sair da casa onde moramos (no bairro Citrolândia). A gente fica preocupada", contou. "Aqui no hospital também não tem segurança nenhuma, estamos desprotegidos. Eu e o meu marido estamos revezando. Tem hora que ele fica na porta vigiando, e tem hora que eu fico, pois o hospital não tem segurança nenhuma."
O pai da jovem não quis falar sobre o assunto e pediu para não ser fotografado. Disse apenas que ainda está muito preocupado e que não sabe ainda o que vai fazer quando a filha receber alta. "Não sei para onde iremos, pois temos medo de voltar para casa. As meninas ainda estão soltas e não temos segurança de ninguém", lamentou.
"Já vieram vários policiais aqui, mais eles têm que ficar pedindo autorização ao juiz para visitar minha filha. E até agora não conseguimos nada. Queria saber se fosse a filha do juiz se teria alguma menina solta ainda, ou se o caso ficará impune igual está ficando. Será que essa lei é a mesma para todos?", questionou a mãe.
Investigação
A Polícia Civil informou que o caso ainda está em investigação e que qualquer informação pode atrapalhar a apuração. Um dia depois das agressões, uma das quatro adolescentes, de 13 anos, se apresentou espontaneamente a um batalhão da PM "porque teria ficado sabendo que o seu nome havia sido citado pela vítima como uma das agressoras".
Em depoimento, a estudante negou o crime, mas foi reconhecida pela vítima por meio de fotos. A Polícia Civil fez um "auto de apreensão em flagrante de ato infracional análogo ao crime de tentativa de homicídio", e encaminhou a menina ao Juizado da Infância e Juventude de Betim.